segunda-feira, outubro 30, 2006

Amor em AM.

80 canais de televisão, internet banda larga, milhões de websites, filmes, revistas, discos, uma assinatura de jornal diário, e-mails e telefone.

Preciso encontrar o rádio Am, lá as pessoas falam de amor.

quinta-feira, outubro 26, 2006

Que nessa terra perdure toda a nossa coragem.

Mudança, transformação, deslocamento. Força para saltar de prédios, construir pontes ou destruir o passado imediato. Quem te deu a mão? Quem te fez assim, silêncio de estranha cor? Talvez seja só catarse, um grito ou quem sabe revolução de si mesmo. Há mistério em quase tudo, e realmente, nem todo veludo é azul. Graças a Deus.

Uma nova chance para reconhecer as cores, sentir o prazer de toques primários, abrir os olhos de uma escuridão que fere a carne, em desespero, travestida de ternura e calmaria. Nessas horas não existe longe, frio, difícil, longo ou triste. Só o coração soprando cada passo do que move o peito em disparada. Sejamos fortes como compromisso.

Em tempos de distancia, espero o que caminha agora, meu senhor.

"Eu vou embora, é chegada à hora. Não, não chora. Não, não chora e nem me faz chorar. O que é saudade? O que é tristeza? Me responde com justiça e não com lágrimas."

segunda-feira, outubro 23, 2006

Amor Louco - (1989)

Em 1989, final da década em que o rock brasileiro se consolidou no mainstream da indústria do disco, a banda paulista Fellini gravava Amor Louco, que marcaria consideravelmente não só a carreira da banda, mas também a intenção do rock urbano encontrar definitivamente ritmos nacionais como o samba, influenciando na década seguinte o trabalho de grupos como Mundo Livre S/A e a Nação Zumbi de Chico Science.

Amor Louco é rock, é samba, é cidade, é São Paulo, é poesia, é tudo junto. Os instrumentais doces e herméticos encontram a poesia de Cadão Volpato em sua dose mais completa. Nas palavras de Thomas Pappon, guitarrista e compositor da banda, as letras desse disco são “Volpato do melhor, destilado em tonéis de choco milk, amor louco e paixão pelo surrealismo”. Tudo isso entre o samba de Adoniran Barbosa e os edifícios concretos da cidade de São Paulo.

Dezessete anos depois, Thomas Pappon conta ao S&Y como foi o processo de criação desse disco, que é considerado por muitos, um dos melhores álbuns da década de 80.

Jair Marcos, Ricardo Salvagni, Cadão Volpato e Thomas Pappon - Fellini em 1989.


Manoel Magalhães: O disco "Amor Louco" é claramente o mais bem resolvido da banda na questão técnica de produção. Vocês fizeram algum tipo de pré-produção? Como foi o processo de amadurecimento do disco na cabeça de vocês antes de entrar no estúdio para a gravação?

Thomas Pappon: Na verdade a pré-produção foi a mesma da dos discos anteriores, ou seja, havia um repertório pronto para ser gravado. A grande diferença é que sabíamos que estavamos entrando em um estúdio de 16 canais. E estávamos dispostos a ir mais fundo na exploração de sambas eletrônicos.

Manoel: Quem produziu o disco com a banda foi um cara chamado Jacky [R.H. Jackson] não é? O que você considera fundamental dele para o resultado final do disco? Já escutei uma história de que ele - no decorrer das gravações - teve que se ausentar e isso acabou atrasando a produção. Como isso aconteceu realmente?

Thomas: O Jacky foi o único cara de fora da banda - exceto, talvez, o Silvano Michelino - a ter algum tipo de contribuição de peso em um disco do Fellini. No início do projeto ele era apenas o dono do estúdio e o cara que estava gravando as músicas. Mas o papel dele foi crescendo, ele sabia muito bem como gravar o nosso som, como casar os violões com o beat eletrônico - para mim, a chave do disco - e chegamos ao ponto de realmente dependermos dele para concluir o trabalho. Ele viajou por dois meses (acho que foi para a Índia), quando faltava pouco para concluir a gravação. Tentamos sem o Jacky, mas não deu. Resolvemos esperamos ele voltar. Como só podíamos gravar de noite e nos fins-de-semana, a gravação toda acabou durando uns cinco meses.

Manoel: Muita gente atualmente usa o clichê do samba pra falar desse disco, tentando talvez fazer uma generalização dele. Você não acha que talvez a grande sacada do "Amor Louco" tenha sido justamente subverter esse clichê? Fica para mim muito essa sensação, que tanto nas letras do Cadão quanto na parte instrumental, a banda mastiga o samba e o transforma numa coisa muito nova e moderna. Você concorda com isso?

Thomas: Os (pseudo)sambas dos álbuns anteriores ficaram bem legais e esse pareceu ser um bom caminho para continuar a ser explorado, o do samba. Volto a insistir que a combinação dos dois violões, baixo e beat eletrônico soava muito bem (outro dia revi um video de um show nosso ao vivo em 89, e constatei isso). Mas, dito isso, é claro que o Fellini se achava uma banda de rock, e nossa preocupação era muito mais a de curtir, no espírito do "pô, isso é legal, vamos nessa" do que a de 'subverter o samba'.

Quando o disco ficou pronto, o René Ferri (da Wop Bop) comentou que ele tinha a cara de São Paulo, e que "parecia Adoniram Barbosa". Achei aquilo o máximo, e, pela primeira vez no Fellini, me senti orgulhoso de fazer parte de um disco que realmente tinha a ver com a tal cara de São Paulo. Não a São Paulo do rock underground ou punk ou contestador, mas a São Paulo da boemia, das rodas de boteco e da tradição de trazer um acento europeu ao samba ou MPB e fazer algo urbano e inspirado. As letras tiveram papel fundamental nisso.

Não sei se todos perceberam ou sabem disso, mas o Cadão é um cara ultraromântico e todas as letras são inspiradas em musas. O Cadão certamente estava inspirado quando fez as letras de Amor Louco. Por uma mulher e pela cidade de São Paulo.

Manoel: O disco tem uma combinação belíssima da tradicional estética do grupo (letras poéticas e instrumental ousado) com um apuro técnico mais característico da música pop mainstream. Você acha que isso pode ser ponto fundamental para que o disco envelheça melhor que os outros?

Thomas: Hmmmm, talvez... É o disco mais bem acabado do Fellini, mas, francamente, acho que nenhum dos cinco álbuns perdeu a dignidade. Nem o primeiro, com aquela bateria cheia de "reverse reverb" e as citações a bandas new wave. Ouço os cinco, na boa.

Manoel: Quando você lembra do "Amor louco" consegue pensar nas influências que vocês tinham naquela época? Quem pode ter influenciado diretamente no disco? O nome foi inspirado no livro do surrealista André Breton. Quais as outras influências que você lembra ou consegue reconhecer?

Thomas: Bom, já mencionei as musas do Cadão... putz, deixa eu ver... Eu tava ouvindo My Bloody Valentine, Souled American, AR Kane... nada que tivesse tido uma influencia discernível nas músicas. Creio que um ponto importante foi que a maioria das músicas começaram a ser compostas no violão em Salvador, quando estive de férias por ali, em julho/agosto de 88. Minhas musas, então, foram Salvador na chuva e, mais tarde, minha mulher, a Karla, com quem casei no meio das gravações e sou casado até hoje.

Manoel: Agora olhando do viés oposto. Qual você acha que é o legado desse disco para as gerações pós-Fellini? Já é possível analisar isso? Muita gente diz que o movimento Mangue beat de Recife teria sido bastante influenciado por esse disco em especial. Você concorda?

Thomas: Sei lá. O disco passou em brancas nuvens. Foi o mais ignorado do grupo, pela grande imprensa (sem contar o Amanha é Tarde).

Manoel: Qual é a sua música preferida no disco e qual a razão?

Thomas: Nossa, essa é difícil... Adoro os sambas, Cidade Irmã, Você é Música, Samba das Luzes e Kandinsky Song, e, dessas, gosto em particular de Você é Música, porque ela não parece com nada e é tão simples... E a letra é Volpato do melhor, destilado em tonéis de choco milk, amor louco e paixão pelo surrealismo.

Manoel: "É o Destino" e "Aeroporto" são canções que não estão no vinil de "Amor Louco" mas entraram no K-7 e no Cd. Você acha que elas acrescentaram alguma coisa? Eu particularmente acho "Aeroporto" um final muito bonito para o disco, mas sei que existe uma história estranha sobre a entrada delas na versão CD. Vocês não foram consultados? Como foi exatamente que isso aconteceu?

Thomas: As duas faixas eram bônus do cassete de Amor Louco e entraram naturalmente no CD - fomos consultados, sim. O chato é que Aeroporto tinha entrado como bônus 'escondido' no CD Três Lugares Diferentes, da Baratos Afins, o que foi um absurdo, uma tremenda cagada do Calanca. É o Destino era uma demo, o mix é ruim, uma pena - pois a música é fantástica. Aeroporto é de 85, uma gravação meio fuleira, mas bonita.

Manoel: A versão em CD do "Amor Louco" teve a remasterização de um cara chamado Benoni Hubmaier. Já li em alguns lugares você falando bem dessa nova masterização. Você acha que acrescentou força a beleza do disco?

Thomas: Esse cara é um gênio. Adorei o som do CD. Acrescentou peso e cor a um disco que já estava bem resolvido. Ah, como queria que esse Hubmaier tivesse remasterizado todos os outros...

Manoel: Pensando depois de tanto tempo sobre esse disco, como você definiria o "Amor Louco"?

Thomas: O melhor disco feito no Brasil nos anos 80.

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** Para fazer o download de "Amor Louco", clique aqui!

*** Publicado originalmente no site: Scream & Yell

domingo, outubro 22, 2006

G.H. * 05



Enquanto vejo seus olhos verdes rasgarem o escuro do quarto, imagino o quanto de silêncio teremos até as palavras que ainda não chegaram. Ela quebra o vazio, beija-me o rosto e quer sair pra jantar às 17:32 desse domingo frio e sem vida.

- Amor, agora somos realidade. Cecília diz com a certeza insinuada em cores de segredo íntimo. Saímos e os pingos de chuva só confirmam que ninguém nunca entenderá o que somos juntos. Ela sorri daquele jeito lindo. As luzes da Marquês de São Vicente parecem concordar, sorrindo junto enquanto caminhamos.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Poliana

Entre o amarelo e o vermelho se escondem as cores que Poliana esquece ao levar as tintas nanquins. Menina nascida para viver uma parábola. No jardim de casa as flores cresceram a passos largos e ela está usando um vestido lindo.

Transforma em paixão, cada curva, cada espaço no disperso fluxo de atenção que Poliana desperta no que faz-me arder o peito. Acho que se chama coração. Ela sorri sentido algo que não se expressa, e prende o cabelo para fazer do silêncio: forma exata. Beleza nascendo na menina que esconde um sol alaranjado nos olhos.

Enquanto lia Raduan Nassar, quis beijar levemente seu rosto, e dizer ao pé do ouvido, o que de mais belo entre nós pode tornar-se real:

"E, quando já tivermos, debaixo de um céu arcaico, tingido nossos dentes com o sangue das amoras colhidas no caminho, só então nos entregaremos ao silêncio, vasto e circunspecto, habitado nessa hora por insetos misteriosos, pássaros de vôo alto e os sinos distantes dos cincerros; me dê a tua mão, querida, tantas coisas nos esperam."

terça-feira, outubro 17, 2006

Até quando dura a sorte?

Primeiro vieram as soluções para a vida acadêmica, depois a força pra se jogar no mar da libertação duas vezes. Isso mesmo, duas ou até três vezes, dependendo do ponto de vista. Aí a sorte não satisfeita ainda, trouxe a paciência, um livro, algumas músicas, um clipe, até dinheiro ela anda trazendo. Nossa, não vou falar nem dos bons planos que chegam, que começa a parecer exagero isso tudo.

Pra finalizar, não é que ela trouxe um sorriso lindo? Pois é, quando eu menos imaginava, o sorriso chegou. Uma coisa até embrulhada pra presente, bem bonitinha mesmo. Essa tal de sorte em 2006 resolveu dar uma de papai Noel.

Será que é só pra mim? Será que eu tinha um saldo positivo lá com quem decide esse tipo de coisa e eles só foram reparar agora? Aí pronto! Algum chefe de departamento deu o esporro necessário e o meu encarregado finalmente veio pagar a dívida, que vai, nem parecia ser tão grande assim. O meu saldo que era enorme mesmo? Será que eu fiz tanto o bem assim? Ou eu nunca reclamo de nada e isso vale bônus? Só sei que estou mais do que no lucro atualmente.

Agora só falta aprender a tocar bateria e voltar a Itaperuna de vinte em vinte dias. Acho que com isso a sorte não acaba nunca. Ou sei lá, eu fujo e pronto, já é meu, quero ver tirar. Acho que é melhor ficar na minha. Vai que ela escuta isso tudo.

sexta-feira, outubro 13, 2006

How long's it gonna be, babe.



"I played your song but I couldn't get the melody right. Why don't you just shoot up like a ball of rubber bands"

Ela atravessa o saguão do hotel com a idéia fixa de terminar tudo. Chega ao 713 e acaba beijando o rosto dele para sentir novamente todo o carinho que já existiu nesse gesto. O gosto agora é diferente, mas ela sabe bem que as coisas mudam. Pede um abraço e já não importa o que aconteceu até aqui. O calor dos dois ainda é a variável que permanece inalterada no sentido de tudo que querem viver.

O homem da vida dela sou eu. Camiseta branca e olhar perdido acompanhando as luzes pela janela do apart-hotel. Acendo um cigarro enquanto ela prepara o café e troca a música pra ouvir aquele disco do Pulp que nós dois gostamos. O frio que cobre a cidade traz o vento calmo dessas últimas horas de quarta-feira.

Ninguém entende como podemos nos amar sim. Desse jeito doentio.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Amargo

Ele entende o que é a rotina aos quarenta. Ela não sabe o que faz aos vinte e quatro anos. As lamentações são longas de um lado, as explicações soltas do outro. Ela diz que é assustador. Ele conta os detalhes de como é se transformar.

A garota observa tudo com os olhos imensos encravados no interlocutor. Os dois são pensamentos separados pelo corpo. Nenhuma palavra é exata para essa situação.

- Será que tudo vai ficar mais fácil?

- Pode ser que fique mais simples, mais fácil eu não sei.

- Você sempre passa por isso?

- Sempre.

Tentam um beijo, mas tudo parece tão distante. O pensamento continua perdido mesmo com o encontro das línguas. Ela quer continuar tentando. Ele apesar da paciência com as revoluções, prefere procurar alguma segurança.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Olhar de trinta segundos.

Caminho pela Ataulfo de Paiva na direção contrária a dos carros, os olhos percebem algo de familiar na cena. Cabelos de alguém que um dia fará parte de minha vida. O frio e a chuva fina trazem uma tristeza com gosto e cheiro de ponto final. Já fazia parte dos planos não encontrar sentido neste domingo pálido, mas ela vem apressada para pegar o ônibus vermelho e muda tudo.

Muda com a cor dos cabelos, com qualquer sorriso que fica pela calçada. Como uma revelação, o preto e o branco vão dando lugar as cores que ela trouxe apenas pela presença naquele lugar. Isabela é capaz de mudar o mundo só existindo. Será que ela sabe disso? Por favor, alguém em quem ela acredite, diga isso por mim.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Vestidinho azul.

Ela dança em alta velocidade. Sem parar pra pensar no movimento, só move. A música é forte, pulsa num ritmo infernal e o corpo da garota é levado por essa força torpe, quase absoluta nesse momento. Quem assiste acha delírio, loucura de alguém que se deixa levar pelo prazer puro. Lembro de uma passagem onde Diana - a caçadora, se vira e enquanto é enrabada pelo vampiro, pensa apenas no prazer.

Sinto um tesão que vai crescendo no andamento das pernas arqueadas dela pela cama. Olhos nos olhos para não lembrar da medalhinha que carrega no peito. Mais um movimento dos quadris e estamos trepando. Tudo muito violento e doce, como o melhor da vida deve ser.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Sobre mulheres da minha vida e a Lapa.

Uma mulher marcou minha vida por um bom tempo. Analisando hoje, tudo foi muito mais que positivo entre nós dois. Amamos, aprendemos essas coisas todas de sempre, só que em alta velocidade e com longa duração. Tentando lembrar uma imagem que ficou na cabeça, digo que parece algo entre o colorido e o sangue, um sorriso indecifrável para o bem ou para o mal em alguma história infantil; ou o gosto amargo no final de uma bebida boa. Não existe um sem o outro, entende? Foi a primeira mulher e isso não é pouco.

Pois bem, posto isso, ontem no aniversário de minha pequena Gombata nos paralelepípedos itaperunenses da Lapa, reencontrei a segunda mulher da profecia que alguém escreveu pra mim. Ou para nós, quem sabe. Ela pensa diferente quase sempre, discorda de tudo quando concorda e isso me deixa perdido como em qualquer noite mais escura e sem sentido. Não que seja ruim, é lindo.

Lindos também são os olhos, o sorriso, a barriga, os seios. Até o cheiro do cabelo, dá pra acreditar? Cheiro pode ser bonito? Parece que sim algumas vezes.

Certa vez fomos ao cinema. Véspera do dia das mães e ela aproveitou pra comprar o presente no mesmo shopping na Barra. Andamos, andamos, conversamos, andamos e as horas foram. Engraçado ainda lembrar do filme: Nelson Freire. Só que nessa época ela evitava, eu não entendia muito aquilo, um morde e assopra estranho, parece-que-quer-demais-não-querendo. Fazer o que, deixa pra lá por um tempo.

Meses depois, minha namorada da época parecia odiar a tal menina. Olha, de alguma forma ela tinha razão quando dizia que nos olhávamos de um jeito diferente, estranho, difícil de entender.

Ano passado, churrasco no final do ano. Bebemos, conversamos. Quando decido perguntar porque ela não quis resolver naquela época do cinema, ela responde dizendo que não acreditava em mim, que achava que eu não queria ou estava brincando, qualquer coisa menos querer de verdade. Ai, ai.

- Mas eu não disse agora outra vez? Vocé acha que não é sério?

- Claro que não é sério. Você me fala isso sóbrio? Duvido que fala.

- Claro que falo.

- Não fala. Me liga amanhã então e diz sóbrio. Só assim a gente vai conversar isso sério.

Eu argumento, ela argumenta. Várias vezes. Beijos enfim e ela continua achando tudo uma grande loucura. A noite termina estranha, mais com cara de ressaca do que de romance como ela já previa. Grande mulher essa menina. Liguei no outro dia? Não liguei no outro dia. Idiota com um "I" do tamanho do olhos dela. Sabe por que não liguei? Por morrer de medo de ligar e ouvir que não é extamente isso.

Ela acha que não falo sério, eu acho que ela não fala sério.

Se isso faz sentido e vai chegar a algum lugar, só com o tempo vamos descobrir. Combinamos que com 28 anos tudo se resolve. Eu acredito não acreditando, ela também.

Queria muito, minha linda, que teu sobrenome significasse uma flor com um sentido mais bonito que o que existe por detrás das Margaridas; que segundo dona Vera do Califórnia Zero Grau significam "Amargas-Idas".

Vou então inventar flores do vermelho-revolução: Al-madas.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Vida long-play.

Ler o jornal. Jogar fora o jornal. O lixo fora também. Uma varrida rápida na casa. Toca o celular: mais uma coisa pra fazer na sexta-feira. Ensaio de 22:00 às 00:00 de quinta. Ligar, assistir e desligar a televisão. Viajar seis horas, depois mais seis pra voltar.

Ah, seis horas de trabalho na quinta também. Comer menos e melhor. Comprar a comida e outras coisinhas pra casa. Responder e-mails, deixar mensagens e ler o livro da semana.

Ela liga dizendo que lá o calor dá preguiça essa noite. Concordo plenamente com cada palavra que ela diz assim, baixinho. Toca uma música e alguém canta algo no rádio. Ela diz que vai comer e liga depois. 15 minutinhos, amor. Eu faço as contas e penso em economizar. Luz, TV a cabo e telefone; que merda ter que gastar dinheiro com isso. O telefone toca outra vez e digo que não quero pensar. Ela entende.

- Vamos ver um filme?

- No cinema? Agora?

- Não, amor. Aqui em casa.

quarta-feira, outubro 04, 2006

Veneno contra a ansiedade.

Ta aí! O problema do mundo é a ansiedade. Não sei porque tenho andado tão tranqüilo depois de aprender isso. Tudo meu anda com calma, no tempo em que as coisas devem acontecer. Engraçado como deixar de fazer algumas coisas me libertou pra organizar um mundo novo. Eu só achava as coisas difíceis antes de tentar fazer cada uma. De repente, está tudo ali, tão mais fácil.

Descansei, pensei esses dias, li coisas legais. Agora quero escrever, viajar, resolver mais coisas, viver com as potencialidades que tenho e às vezes sub-aproveito. Uma boa atitude leva a outra e tudo vai mudando junto, até as pessoas a sua volta mudam de acordo com o que você faz.

É difícil aproveitar o hoje sem pensar no amanhã, mas talvez foda mesmo seja aproveitar o hoje pensando no amanhã. Não sei muito bem porque estou dizendo isso aqui, talvez pra compartilhar uma fase boa da minha vida, algum tipo de tranqüilidade que fui aprendendo a ter com o tempo. Às vezes quero ficar calado por dias, só pensando. Quero trabalhar, escrever, tocar, amar.

Viver é maravilhoso em 99% das situações. No resto delas é só tomar um banho e dormir algumas horas que tudo se resolve. Acho que em algum momento da vida me deram um veneno contra a ansiedade.