sexta-feira, abril 30, 2010

sexta-feira

chove fino. a idade hoje não é uma curva tão fechada nos primeiros trinta anos. os vestidos da cidade querem cores mais azuis, mais amarelas, mesmo o tempo ficando cinza e negro no céu, tudo parece meio adocicado e breve, como viver poder ser mágico, um sopro, passos pela avenida aberta de pessoas e carros, de cores, ruídos, de vida. hoje é sexta-feira viva. e simples.

quinta-feira, abril 29, 2010

ponto final

construir casas, escrever livros, pensar, viver, amar, dormir, comer, transar, trepar, gostar, sofrer, esquecer, odiar, querer o impossível ou o óbvio, muito ou pouco, entrar pra história, ser esquecido por todos, o mesmo ou bem diferente, cortar o cabelo, a barba, mudar o mundo, mudar o seu lugar, morrer por uma idéia, por amor não correspondido, por filho, doença ou desespero, desejar além do determinado, ou não ter vontade suficiente, mudar de sexo, país ou endereço, até de nacionalidade. jovem, adulto médio ou terceira idade. classe a, b, c ou d.

tirar cpf, rg, título de eleitor, reservista, pis e carteira de trabalho. pagar inss, imposto de renda, contribuição sindical ou desviar dinheiro, traficar, mandar no jogo do bicho, matar, roubar, ser proxeneta e dependente químico.

famoso, intelectual ou ex-big brother. construir pontes, desenhar ruas, vender discos, frutas, eletrodomésticos, televisores, filmadoras, câmeras fotográficas, biscoitos, cigarros ou trabalhar em centro cultural da caixa econômica federal.

qual é o sentido?

se a morte é o ponto final que iguala toda e qualquer trajetória?

terça-feira, abril 20, 2010

back home

hoje volto ao passado por cinco dias, tempo que a memória guarda no fundo do armário. praia, céu e um casal me levando pela mão, sempre, dias felizes na década de oitenta, momentos que só existem no que é afetivo, inventado, querido, quase irreal. quem eu sou está lá. eles eram, eles são a minha vida. os dois.

segunda-feira, abril 19, 2010

enxergando jazz (volume 2)

agora ele caminha pelo centro da cidade e sabe exatamente o lugar onde a garota fora da parábola não está. passou a curva do retorno e ela ainda é muito começo de estação para os seus planos. é sexo fresco e vazio, carne e vestido, parece muito pouco. ela liga. ele vai até a gávea. ela quer trepar no chão. ele quer deixar pra próxima, bate um papo, fala alto olhando pela janela enorme do apartamento. é engolido pelo poder da juventude. como sempre. ninguém resiste ao apelo visual.

terça-feira, abril 13, 2010

enxergando jazz (volume 1)

por aqui dizem jazz mesmo, sem a pronúncia original dos americanos, engraçado e idêntico ao brasil, ela pensa. comendo as unhas, como o vazio pode levar longe ela está aqui, sem regra óbvia de desencadeamento, gastando o dinheiro que ganhou escrevendo, uma dádiva para quem caminha para o buraco, com prazer, com certeza, fez a cova e quer o futuro com seus quilos a mais nas costas, da mochila, da família, só valendo o alívio do que jogou fora. jogou o cara fora. jogou a vida fora, com prazer.

quer que sua vida seja de quem merecer. o instante. o instável. o que pode ser. hoje é hoje. amanhã é só amanhã. no começo andou a pé pelo velho caminho de setecentos anos, nunca é igual. nem o caminho, nem ela. ela era. ela foi. agora não.

tudo tem prazo de validade. até a aventura. e o medo, fundamentalmente, o medo. mesmo agora, mesmo livre.

ela olha a cidade e é mulher. ela. e a cidade são.

quarta-feira, abril 07, 2010

ensaio sobre o fim do mundo

nessas horas que detesto as pessoas, não a cidade ou a natureza, as pessoas. que gritam, odeiam, correm como baratas tontas pelo supermercado, dando murros umas nas outras, falando bobagens, fazendo piadas, com medo, com fraqueza no espírito, na alma de ratazana que se esconde no buraco úmido, são milhares nos ônibus, nas padarias, calçadas, farmácias, são covardes. e só a solidariedade que brota de poucos salva a humanidade dessa praga, desse vazio de nascer, brigar pelo egoísmo de ser mais rápido, mais esperto e morrer. elefantes indesejáveis. vidas sem razão alguma, passando desapercebidas, só mostrando que existem pela truculência dos tapas e gritos. do mau cheiro.

a socos e pontapés. analogia bem brasileira e cotidiana.