segunda-feira, março 30, 2009

diálogos públicos #2

(no supermercado barulhento e cheio)

filho/adolescente:
a europa ocidental é toda de tradição colonizadora.

pai/professor:
a áustria faz parte da europa ocidental e não teve colônia.

filho/adolescente:
a áustria não seria definida como europa central?!

pai/professor:
não faça isso. você precisa evoluir seu pensamento.

diálogos públicos #1

(no cachorro-quente chileno de lingüiça da praia de botafogo)

senhora: eu viajei até o chile no meu sonho de ontem. falei com meus filhos e disse que voltaria ao rio de janeiro quando acordasse. e realmente acordei suando frio no rosto.

era o frio da madrugada no avião.

rapaz: eu acredito. acho que tem a ver com regressão.

sábado, março 28, 2009

efeitos colaterais

roubo de cheque. depósito de cheque absurdo que por ser roubado não caiu. contestação e bloqueio de cheque. cheque clonado, duplicado ou seja lá qual for o golpe. novo depósito absurdo. agora a necessidade de nova contestação e novo bloqueio. taxas, encargos, despesas, tributos.

juros. em tudo. a toda hora.

desvio de conduta. roubo. a necessidade de alguém te aplicar um golpe, fazer um dinheiro, conseguir sem esforço uma parte do que você precisa trabalhar um mês inteiro para conseguir. assinatura falsa. nome falso. micro empresa de atos ilícitos. ausência total de caráter. comparsas que depositam? que clonam? que gastam o dinheiro e acham engraçado te fazer de palhaço?

ainda bem que o meu santo é forte.

tomara que suporte tamanho bombardeio.

quarta-feira, março 25, 2009

pequeno delírio

ela não quer pensar em absurdos. o que parece inevitável é aceitar que agora é livre, que não sente mais a obrigação de alimentá-lo, não precisa ser submissa a todos os seus horários, vontades e certezas absolutas, que pode enfim fazer o que quer e não agradar seria uma espécie de redenção. com todas as letras maiúsculas. ela examinou as novas rotinas do seu dia e quis entender porque foi preciso mudar tanto para descobrir que não havia nada de errado com ela.

ela sempre foi o norte.

e quando era diferente, era única. sentia diferente, vivia o tempo lento de seus dias de caminhadas longas, voltando pra casa, pensando mais que dizendo, sonhando, deixando a vida desacelerar naturalmente na esquina, ela sabia e não sabia, acredita? mas agora quer mesmo é começar um delírio.

bem pequeno.

sexta-feira, março 13, 2009

filmes que não vivi

agora me sinto dentro de uma canção do leindecker.

sem vontade de falar, ver ou escutar.

só fechar os olhos e não ter que encontrar ninguém.

quarta-feira, março 04, 2009

inércia

engraçado como as pessoas não aprendem.

seja quem diz que quer algo melhor porque não conseguiu o que queria, seja quem queria e agora não quer mais porque não foi desejado proporcionalmente ou ainda aquele que mesmo com o passar do tempo não consegue enxergar os seus defeitos. o que era azul vira cinza e pronto. tá decidido.

isso deve ser burrice, só pode ser, não consigo explicação melhor. já vieram me dizer que fulaninho era um canalha porque depois de tanto tempo de namoro resolveu terminar o relacionamento, 'acabou com a minha vida' e toda essa conversa, mas parar pra pensar que o outro pode mudar de idéia, pode querer diferente, pode pensar melhor ou refletir sobre o que quer da vida, parece tão difícil assim? canalha não faz tudo bonitinho, ali, preto no branco.

mas se a culpa é de quem muda, o azar é de quem fica.

parado.

segunda-feira, março 02, 2009

nossas melhores roupas #01

ela quer chegar antes das vinte e duas horas em copacabana. patrícia parece resistir ao século vinte um e sobrevivendo sabe se lá de que dinheiro - dos pais, da vida, do seu - consegue transformar-se em luz que ele não entende facilmente. pode ser que não esteja sempre no circo, no baixo, na augusta, em cuba, paris ou no espaço de cinema, mas está ali, sempre no imaginário, nas fotografias que ele assiste de relance no cotidiano carioca, no caderno "ela" que ele compra por acaso, na fotometragem do lula carvalho em qualquer fita mais recente, ela representa alguma coisa no mundo que conspira para um encontro fortuito.

o acaso.

acontece em copacabana, em frente ao bip-bip, vinte e duas horas em ponto, ela atravessando a rua com o vestido azulado e um cigarro entre os dedos, ele comprando os seus cigarros e uma revista na banca de esquina, ela olha, conhece, retrai, não conhece, antecipa, ele admira o cuidado com que os sapatos são limpos, o vestido passado, o sorriso entrecortado, os cabelos loiros de luz natural ou refletores de quando o cinema ainda era foto-exposto, eles cortam, estranham, vão. sentem falta.

seguindo em sentidos opostos.

sem motivo. só intuição.