terça-feira, junho 23, 2009

vinte e quatro quadros

tomada dois - corte seco - de roxo, lendo um livro qualquer, olhos focando as letras com dificuldade enquanto se distrai dos olhares em contra plano. chove e ela não presta atenção também ao que acontece do outro lado da janela do ônibus. o som embolado entre pingos, asfalto, a música dos alto-falantes e o ar condicionado, não desvia o seu fluxo de pensamento. é uma ilha observada em silêncio por todos.

o mundo não existe, mas ela representa. muito bem.

sexta-feira, junho 12, 2009

12 de junho

dia de verbos. esperando um número restrito. a chuva cai e o frio pode entrar pela janela que já não me importo. sinto. deixo. hoje aproveito o tempo de questionar com outras atividades, o café, a guitarra, o violão vivendo uma reforma, o dedo cortado quase não sangra. outro verbo. depois enfim budapeste. meu amor no museu da república. jantar como velas pequenas e vinho. tudo que não sei, mas vai acontecer.

mais um dia na transformação que é longa, que acontece desde sempre, ritual, rito de mudança, querendo que o acaso jogue a favor e tudo faça sentido. ou razão inventada depois do sonho. dia de destino. vida. ainda. mesmo que com data indefinida. toda possibilidade é vida. ainda, agora, sempre que a experiência passar por mim, sempre que ela me diz respeito. é minha. meu jeito de assistir o dia.

12 de junho. dia dos namorados. existe. é dia. lá fora. ainda.

(para ana carolina ramos slade)

quinta-feira, junho 04, 2009

medida do possível

os cartazes serão enormes e com textura, espalhados pela parede parecerão um sonho quando alguém dorme mais cinco minutos de atraso. apartamento de muito espaço, o sol entrando pelo fundo do quarto, flores pro chá ou almoço fim de tarde, os livros empilhados no meu estúdio, na nossa cama e guarda-roupa, na sua mesa de centro. cortinas pela sala, eu chegarei atrasado de algum passeio, a história esperando tradução, a água do café ferve com o fogo sempre baixo. sem pressa de mudar. sem pressa de ser ou estar.

um minuto e eu já vou dormir. em cores. agora.

quarta-feira, junho 03, 2009

do visual e sólido

o sucesso dever ser visível. a vitória precisa ficar exposta na parede de quem ganha o troféu, o diploma ou a medalha. qual a finalidade? lembrar da batalha até o objetivo? a glória de chegar primeiro? contra fatos não existem argumentos. contra vitoriosos não existem detratores, só derrotados. e que avaliação é feita no final? qual o valor de tudo isso? qual o sentido? pra que existe? qual a necessidade?

a vida acaba e tudo continua girando.

mesmo sem você.

terça-feira, junho 02, 2009

analogicamente

a vida é processo. como o chá que está em infusão agora ali na pia me esperando pra dormir. feita de seus caminhos orgânicos, ela quase nos ilude que nos anos pós 2000 somos capazes de superar o óbvio, mas não somos. é só pensar um pouco. o corpo funciona sem receita médica ou razão matemática, o tempo passa sempre na mesma toada e independe do avião, da roda e até da morte para existir.

fazer um bom chá é arte, como uma canção ou um pedaço de palavras juntas. ter trabalho acrescenta alguma coisa ao conjunto de significados que a sua vida acaba representando. é sair de si. melhorar. fazer valer a pena o que não vale. ou não faz sentido. como amar parece inútil. parece prisão. parece sonho e acaba fuga. mas não é. amar também é processo. como chá, vida e trabalho. e é justamente o processo que te faz alguém melhor, templo de seu próprio corpo e de sua própria escolha, que consegue seguir em um dia que começa sempre novo, sempre em branco, mas com bula, com passado que ofusca a chance de luz depois da noite. processo é conseguir enxergar luz quando é hora de luz e sombra quando é hora de sombra, é plantio, espera, entendimento. saber que não se acelera o que é lento.

é difícil acordar e enfrentar a vida. como é difícil escrever algo seu, cantar uma canção que seja sua, ouvir os ruídos e observar as cores que só dizem respeito a você mesmo. é solidão e é liberdade. nascemos sozinhos, vivemos sozinhos, existimos sozinhos. temos que aprender, sozinhos, o processo. a maneira. a finalidade. o sentido. o quebra cabeça é meu e só eu consigo entender a minha própria ciência. não existe análise externa que me diga respeito.

é minha vida quem agora gosta de dizer:
- o processo existe. favor não desperdiçar.

segunda-feira, junho 01, 2009

flor de laranjeira

ela. o grosso desse hotel. mudança, a noite entre estações e o sinal fechado de uma felicidade que significava sonho, mas agora aparece representada na comida que fazemos juntos, nos beijos, almofadas, salas de cinema, jardins com jazz, lugares, cores e cheiros que são nossos. representação de uma vida conjunta. teatro que diminui o ritmo dos meus pesadelos de perda, das angústias de um inconsciente sombrio. o vazio. o medo. agora é menos. todo dia.

ter cotidiano é aceitar a sua benção. o seu destino. o meu destino. é entender a falta de escolha como abrigo, aceitação do óbvio, agora com você entendo o limite e encontro meu caminho, penso em mim quando quero te fazer mais forte, somos mais fortes porque somos juntos, isso é encontro, certeza, como quando você usa as mãos para me banhar, quando abraça pra me fazer homem, namorado, amigo, companheiro. pessoa com a qual se divide o pão. o almoço, o dinheiro, o cinema, com a qual se divide a vida. contando o dia nos telefonemas, chorando nas brigas, apertando minha mão e beijando meu rosto quando o medo quer me dominar. você é o meu sonho, o meu destino, a minha escolha.

um coração que transborda amor incondicional é um coração livre. obrigado por me libertar, flor.