segunda-feira, abril 30, 2007

Sobre como sobreviver à chuva de maio

Eu sigo tentando, mas já aviso que de uma hora pra outra posso desistir também. Bater com a cabeça na parede nunca foi meu forte. Sempre alguém vem dizer: "Mas você prefere quando dói?!", olha, o ideal é não doer, mas se é assim que tem que ser, melhor que seja rápido. Quando é rápido você quase não sente, passando uns dias dá até pra esquecer que aconteceu. Passado-delete-e-pronto.

Feriados servem geralmente para tirar a terra toda que atola os sonhos. Eles ficam lá, largados no buraco que a gente cava quando quis realizar, e se a vontade de voltar a sentir aquele prazer inicial não for suficiente para uma limpeza geral, então não tem jeito. Deixa isso pra lá e procura uns sonhos novos. Mudar é quase necessidade.

Aqui é hora de entressafra. Enquanto uns vão pro lixo, outros chegam com a frente fria. Escolher quem fica e quem sai é meu jeito de saber que maio chegou; e que para as transformações que ele traz não existe casaco que sirva, muito menos certeza que salve.

sábado, abril 28, 2007

201.201.201.201.201

O Manoel aprendeu a avaliar
a medir
a mensurar
ele pensou em tanta coisa
e chegou a conclusão
momentânea
de que aquilo tudo
passou mesmo
e que agora é vida nova.

Tudo muito bom,
tudo muito bem
e rápido
e seco
é alegre demais
e triste as vezes também
mas aprender qualquer coisa
besteira
ou não
leva tempo
leva espaço
do coração
do peito, do bolso,
leva até quem andou por aqui um tempo.

O Manoel agora
tem um monte de fotografias
de amigos, de datas,
festas, lugares
estados, cidades,
eventualidades tantas
na parede, agora
agora mesmo, olha
e deixa pra lá
passou.

Ele escolheu mudar
e começar coisas novas
voltar ao rumo da vida
e se demorou a encontrar
o passo
foi porque essa porra
de destino
gosta pra caralho ainda
do Sr. M. Magalhães
e fez ser assim
tão difícil
mas bonitinho
e doce, doce, doce
'quinêm' bala de maçã
acredita?!
pois é, acredita.

e o Manoel viu
que agora é correr
que começa tudo outra vez
mudou o pano de fundo
mudou o figurino
mudaram as pessoas
algumas coisas até que estão
bem parecidas
mas a vida
HOJE
é muito melhor.
MUITO MELHOR.

E ela vai
vai, vai
E deixa ele também
estar
assim
SEMPRE.

terça-feira, abril 24, 2007

Como perder-se em uma noite suave.

Ele caminha sobre os destroços de uma guerra que ainda acontece. As pessoas passam apressadas com suas crianças nas mãos e ninguém ali parece ter o mesmo destino. Caio corre e gesticula procurando o último carro que possa leva-lo desse ambiente insuportável, com a coragem de quem espera a redenção, ele consegue e tudo a sua volta parece um enorme cemitério de automóveis. Sentado em qualquer encosto sente o vento entrar ralo e ainda guarda a certeza de tempos melhores.

Ele encontra, e vive, e pensa, e faz-se ator de uma vida nova, o tempo é outro, um novo lugar, outras pessoas, canta, beija, abraça pensando nos horizontes do pós-guerra, do viver diferente agora, de viver aqui, lugar estranho, casa nova.

Na manhã seguinte, os raios de sol que entram pela janela parecem anunciar a calmaria. Ele participa do almoço e escuta ao longe as outras vozes na mesa, são pontos finais em sua trajetória de refugiado, filho perdido, agora bem-aventurado. Estende seu manto pelo chão e encontra repouso em abraços de carinho, em palavras soltas nesse dia preguiçoso e lento, são tantas as razões para serenar, que o rapaz apenas deixa-se viver. Parece tão simples como tudo acontece agora que o ontem já é uma lembrança quase encenada. Será que foi vivido realmente?

Algo de estranho ainda existe. Está lá, escondido em algum lugar, parece fruto de outro coração, mas ele sempre acha que isso só se esconde no seu próprio. Ele releva, esquece, esconde, deixa pra lá. Talvez a explicação venha com o tempo, assim é seu jeito de esperar uma revolução. Vivendo o sim, quando a vida defende o não.

Chega a hora de partir. Junta sua roupa e segue a viagem que já começa a lhe pesar os ombros. Encontra o novo carro que irá dividir com mais estranhos. Os acordes iniciais da canção parecem vir de outro filme escondido em seu inconsciente, mas ele entende que é real quando uma mulher pede ao motorista que aumente o volume do som. Ao menos as dimensões parecem próximas.

Caio olha as luzes que banham toda a costa enquanto o carro segue seu movimento, a música então o carrega em pensamento para um lugar distante. Enfim reconhece as palavras no refrão e se emociona.

"Tell me that you'll open your eyes / All this feels strange and untrue / And I won't waste a minute without you."

sábado, abril 21, 2007

São Paulo na praia de Botafogo

Voltando pra casa na noite encontro a alegria de quem canta os versos mais paulistas do jeito mais carioca. Festejando. A praia de Botafogo parece a avenida São João iluminada de samba sem túmulo. O velho Adoniran me lembra que ser feliz é poder caminhar sem pressa pela vida. Na Voluntários da Pátria ou em Jaçanã, vivemos do jeito que dá, com ou sem os tiros do túnel Santa Bárbara.

Perigoso é não viver. E tenho dito.

terça-feira, abril 17, 2007

Silêncio, silêncio, silêncio.

Foi brincar de Fante e deu no que deu. Vivendo pra escrever e essa coisa toda, do nada é que se perde o controle. Assim mesmo: do nada. Você começa a caminhar, e acha, e tenta entender se é isso mesmo, e canta a música, e resolve que é e pronto. Você aceita e deixa viver do jeito que a vida vem. Como um caminhão de gás.

Você foi. Viveu. Aceitou. Deixou. Cantou o refrão inteiro. Só entende, meu filho, que você gostou e agora seja homem o bastante pra colocar a cara pra fora da janela, pra comprar o pão que vocês vão comer no próximo domingo. Você fica aí, cheio de coisinhas e medos, cheio de dedos, de frescura, de talvez e de senões. Cala essa cabeça e vai.

VAI. Ah, e vê se não chora quando tocar Stereophonics no carro voltando pra casa de madrugada. Liga, escreve, dá sinal de vida. Segue. Se o caminhão te atropelou, problema seu. Levanta e continua que ela ainda respira no seu abraço. Acorda e vai. Acorda e volta. Acorda e vira homem, que o mundo não te espera. Ele te quer agora.

VAI VIVER. VAI.

quinta-feira, abril 12, 2007

Beautiful rain, beautiful rain.

Trilha sonora enquanto escrevo o Gávea Hardcore:

'Well the satellite comes and goes
we give each other all we know
in silence we still talk
by the light of the stereo waltz
and you will rain down
in your cinematic love truck
want to hold you like
nothing's going stop us

she come to take me away
it's all that i needed
i don't breathe another lover

flicker on a TV screen
everything's more than it seems
the mighty backward fall
stare at the lights on the wall
i swear to this
she felt like velvet
second blond child she ment it

she come to take me away
it's all that i needed
i don't breathe another lover

I'm an alien
you're an alien
it's a beautiful rain
beautiful rain
beautiful rain'

Repórter ligando para o Itaú

- Alô, quem tá falando?

- O assaltante.

- O que tá acontecendo aí? Que assaltante?

- To roubando o banco aqui... ué...

terça-feira, abril 10, 2007

Indo e vindo

Voltei da viagem tão bem, mas tão bem, que até pensei em fazer uma festa no meu coração. Festa por tempo inderteminado.

quarta-feira, abril 04, 2007

A paixão pelo desenho dos olhos árabes.

“Era Ana, era Ana, Pedro, era Ana a minha fome; explodi de repente num momento alto, expelindo num só jato violento meu carnegão maduro e pestilento, era Ana a minha enfermidade.” – (Raduan Nassar)

A chuva das seis da tarde banha lentamente a calçada da Barata Ribeiro nesse sábado de março e ninguém parece se importar que ela lave também nossos corpos enquanto o som do trânsito se mistura com a música que sai do velho sebo amarelado. Bebemos e conversamos, observando pessoas diferentes passarem por nós com suas garrafas de cerveja nas mãos. Esse é o horário onde tudo é maravilhoso e nem as dezenas de pedintes em Copacabana atrapalham a felicidade que esse rito semanal proporciona. Happening em Cinemascope.

Ela aparece vestida por um verde que destoa de todas as outras garotas, seus olhos são os maiores; o cabelo preso mostra a nuca da mulher que me foi traçada como profecia em aramaico, e não consigo parar de olhar para qualquer gesto que ela faça, qualquer movimento leve enquanto fala ao celular ou olha perdida para meus olhos que a perseguem com sede e já não escondem seu foco único.

Os negros olhos árabes.

segunda-feira, abril 02, 2007

Volto Logo

Peço desculpas pelo abandono momentâneo, caros leitores. Os esforços aqui no teclado de casa andaram exclusivamente voltados para o meu "Mojo Book" que deve sair em breve. Volto com a programação normal desse blog amanhã, ou quarta-feira no máximo. Prometo!

Muito obrigado pela atenção de sempre.

Beijos,
Manoel Magalhães.