sexta-feira, outubro 30, 2009

então, então

com o tempo as coisas se ajeitam. o dinheiro aparece, a cabeça descansa, o feriado chega, as escolhas aumentam, a paz parece reinar. pode ser.

tudo pode ser. já reparou?

é bom quando a sua vida anda, anda, anda, você conhece pessoas, vive coisas, viaja, faz sexo, faz bobagem, briga com amigos, inimigos, amantes, amantes de amigos, deita e quando acorda as coisas mudaram, aí você tem um blog pra escrever isso, isso de que tudo pode ser. tudo pode ser quando você ainda tem escolha. tem gente que não tem mais escolha, se fechou em algum ponto da vida e fudeu, não vai mudar, dali não vai sair, a cabeça perde uma chave porque você está apaixonado, ou cego, ou agora tem um filho, ou um casamento, ou outra coisa séria, que você leva tão a sério, e fica preso, travado naquilo, e nessa o marido trai, a mulher finge que não vê, ninguém é tão feliz mas vai levando, e tem o lance dos filhos, do trabalho, da cidade, dos pais, da falta de vontade, da preguiça, porque porra, mudar dá um certo trabalho, trabalho esse que você prefere deixar pra pensar na terça, depois do feriado, mas pensar só de leve, quando estiver no momento triste, antes da sobremesa, antes de voltar para o trabalho, quando alguma coisa química baixa no cérebro, cai e você lembra que está levando a sua vida, ou deixando ela te levar, tem gente que até se orgulha, vai ver faz algum sentido, mas no momento só agradeço por ainda poder mudar. por me sentir ainda livre.

as pessoas ficam e eu sigo, egoísta de tão eu.

terça-feira, outubro 20, 2009

sobre como termino de plantar

vivendo dias sem o sono necessário. madrugadas e ônibus, pedaços de frases em músicas semiacabadas, responsabilidade com coisas que não parecem tão nobres, a vaidade alheia, eu, incompleto e meio sujo, derrapando na lama do dinheiro que preciso, aprendendo a amar como adulto, tentando aprovar documentos, assessorar os mais bem pagos, guardar em caixas de papelão o que juntei de 2004 pra cá, pouco valor agregado, muito afeto estabelecido, e sou um dono zeloso do meu passado e também do futuro. que ainda não é meu, mas será.

por isso aguento o peso, a andar que cansa, as pessoas que são só pessoas, os dias que perco, as horas que passam no vazio desse lugar inútil, aguento porque falta pouco, aguento porque é no final desse buraco escuro que vejo o fim do quase eterno 2004-2009, ano em cinco, ano de ir e vir, para no fim disso tudo colher um fruto mais forte do que sou eu mesmo. poderia até sofrer, mas fortaleço. poderia não entender, mais isso já aconteceu no início.

hoje sou final de ciclo. sou quase inteiro.

sexta-feira, outubro 16, 2009

o amor perfeito é o incompleto.

o amor completo é fundamentalmente imperfeito.

e ambos são necessários como experiência de dor e plenitude.

respectivamente.

yin e yang.

domingo, outubro 11, 2009

casa-estranha

voltar ao lugar onde outra vida aconteceu é uma experiência estranha. já esqueci nomes, pessoas, lugares, e algumas coisas estão no fundo da memória e precisam ser buscadas com cuidado, já que o passado é um espaço que parece não me pertencer, não me dizer respeito, guardo apenas fragmentos de amizade, cuidado, carinho, vergonha, fragmentos de amor fora da data de validade. ando hoje por ruas menores que as que ficaram na cabeça, casarões afetivos destruídos, amigos casados já são pais, outros ainda moram na casa da mãe, na verdade não são mais meus amigos, aqui só restam os amores familiares, os amores maternos. não me reconheço na pessoa que fui até os vinte anos, só guardo as leituras, os filmes, o vhs didático, a descoberta da vida que viria no futuro. acho que tudo mudou em uma noite de sexta-feira, de outubro como agora, ou novembro, sean lennon tocando no rio, ao vivo na minha tv, entre tantas outras coisas que mudaram o que sou, o que poderia ser, mas mudei e foi preciso, um processo de oito anos, ciclo complexo, difícil de carregar nas costas, contado aos pedaços por aqui e com cortes, amadurecimento que quer dizer redenção, sou outro, mais forte do que o cara que um dia partiu, dilacerado, agora a vida chega na esquina. e tudo é tão novo quanto um belo adeus.

quinta-feira, outubro 08, 2009

#5

uma paixão vazia. algo que não foi concebido para ser natural, ou fácil, ou justo, ou adequado as convenções básicas de gênero. atitude vaga, de loucura e desordem no sexo, janela iluminada, sem tecido pra cobrir o sol ou a visão dos outros prédios, vão, desajustado, doentio como qualquer paixão pela arte. ela o deseja como deseja sua realização estética, como ama a fotografia, a luz, a miopia do walter carvalho; ele a deseja como deseja os ruídos, a ambiência, a cegueira do stevie wonder, eles são juntos mais que beijos, encontros, sexo, esperma, suor. parecem vida em 24 quadros. quando estão juntos. o destino não pode negar a força da luz natural. identidade de movimento e barulho, para não ser faulkner pela milésima vez. nem som, nem fúria.

querendo contar mais sobre os dois, recebo os espíritos do impossível, o platônico é patologia que pode ser dádiva também, minha dádiva na experiência do branco dos peitos dela, visão que não se apaga facilmente, da cabeça ou do sonho, volta em outra frase de outro texto, diz o que seria o mundo se ele fosse perfeito, o mundo seria bem parecido com os seus seios.

lindos, minúsculos, brancos.

peitos ideais.