terça-feira, setembro 15, 2015

sem pistas

a pergunta que circula pelos alto-falantes do bar é "onde você aprendeu esses truques com facas?", e ele olha o celular em que ela bate os dedos, não conseguindo pensar no amanhã, quando tudo isso vai sumir e virar só um milagre, um dia que não aconteceu, como todo o amor que se sente de fato, que aperta, sufoca, confunde, coisa mais sem fim essa irrealidade, que não some de um dia que foi quase verão, uma praga de dezembro, que ficou sem terceira chance, sem casa, sem música, sem existir e deixa só o que não mudou e algumas frases sobre como é mais racional seguir os acordos prévios, já que essa coisa toda torta nunca vai se ajeitar, já que o ano passa e nada vira uma linha de resolução, já que não se pode falar sobre todo o medo de um dia acordar e acertar a estrada. e ela diz que não existe outro jeito, ela o abraça e esquenta uma noite na rua vazia. na praça, com seis gatos pingados, ela talvez tenha esperado alguma coragem, algum milagre, o natal ou a eterna impossibilidade.