sexta-feira, setembro 25, 2009

#4

parecia o sol do outro lado dos olhos. a pele clara, tão mais clara que qualquer outra que pode-se ver pela guanabara. não é daqui. poderia ser bahia, pernambuco ou minas gerais, mas acho que não, sinto que o reflexo branco em seu seio tem endereço, história, caminho, trajetória, e no meu cinema imaginário sorri com sabedoria que não é sua também, sabedoria futura, potencial de transformação em musa, helena ignez do sonho, melhor seria, melhor será, fotografada em anos 70, falando em vinte e quatro quadros, obsessão de imagem, minha, quero que ela seja um dia como eu penso, como imagino que seja provável. como vejo o que ela ainda não é, escuto o que não diz, mas poderia, no futuro em ruas de paralelepípedos e casario, viajando, e eu seria o velho que ensina o sexo. tarado assumido de mim. do sonho dela.

de nós.

quinta-feira, setembro 24, 2009

fossa'n'blues

eu viera para o rio em maio de 66 e, depois de morar no apartamento de alex chacon em copacabana, mudei-me para o "solar da fossa", como foi apelidado o precursor dos apart-hotéis no rio de janeiro. era uma velha casa de fazenda que tinha sido transformada num conjunto de apartamentos, com uma portaria de hotel barato e um mínimo de serviço de limpeza e arrumação de quartos. enormes corredores, ao longo dos quais se alinhavam os apartamentos, circundavam um jardim interno. a proprietária (ou aquela que todos tomavam por tal) muitas vezes estava na entrada, por trás do balcão, com os cabelos oxigenados e fumando um charuto. mas essa descrição - ou o apelido que o solar ganhou - não deve levar à crença de que se tratava de um antro deprimente. ao contrário, tudo ali era limpo, alegre, arejado e parecia sólido. e a visão da proprietária de charuto entre os dedos mais sugeria a elegância excêntrica de uma personagem de filme alemão. (caetano veloso)

quarta-feira, setembro 16, 2009

love is hell pra dançar na off-bienal



OFF-BIENAL

ROCK + TEATRO + LITERATURA
55 autores / 20 horas de programação / 3 endereços

O Baratos da Ribeiro, sebo que adora um fuzuê, uniu forças à editora e livraria da Lapa, Espaço Multifoco, para oferecer um plano B para quem quiser fazer do seu SÁBADO, DIA 19, uma maratona literária – sem precisar se deslocar para a Bienal dos Livros que acontece naquele distante e ermo lugarejo chamado Barra da Tijuca. A editora Mojo Books lança seus autores no:

CINE LAPA – R$ 10,00 até 1h
(Rua Men de Sá, ao lado do Asa Branca)

23:30h
Lançamentos da MOJO BOOKS
na pista 2 (BACK TO BACK) da festa COLLEGE ROCK. Na pista 1 os DJs Eduardo Mulder, Renato Jukebox e Guzz The Fuzz fazem um duelo entre bandas da “velha” e da novíssima guarda, no especial “The Good, The New & The Old”. A pista do segundo andar contará com os DJs residentes Lepaux e JF e quem dará o tom são os autores da MOJO, que “tocarão” seus livros:

Manoel Magalhães (Love is Hell, Ryan Adams)
Rafael de Souza Luppi Monteiro (Evil Heat, Primal Scream)
Rodrigo Novaes (The Trinity Sessions, Cowboy Junkies)
Daniela Lima (Live forever, Oasis)
Luíza Zanuncio Briard, autora de 4 singles.

Programação Completa:
www.baratosdaribeiro.com.br/eventos

terça-feira, setembro 08, 2009

#3

o sol foi embora e só esperei a noite chegar, com ela pedindo outra cerveja, e outra, contei de tudo que quero e que faço, ela ouviu, cara de atenção, sorria nas pausas, disse como imaginava a espera de um disco, os detalhes, o tempo de amadurecimento do sonho, ela sonha cinema, sempre que pode, escreve cinema pra viver - pura prostituição, ela diz, quando não é o seu cinema, quando é por dinheiro, ela, vestido de cor-não-cor, quer a liberdade de ser solitária. de não imaginar como é, antes de ser, de realizar o que for, exclusivamente, necessidade.

vontade, desejo bruto, assim como aceita visitar o chão da minha casa e encostar o vestido de preto-e-branco na poeira acumulada pelo quarto, depois os joelhos e já estamos na janela pra cuspir a fumaça do último cigarro que ela encontrou na bolsa, olhando as nuvens carregadas desabarem lá fora, chove e nós sonhamos, literatura, do meu lado, cinema, do dela. somos encontro.

somos hoje.