quarta-feira, junho 23, 2010

desenho mediterrâneo #2

ali parado, entre duas ruas que levam ao seu ateliê, ele fuma o último cigarro do dia com o café no copo de plástico e a alma perdida no verde das palmeiras que brotam na calçada. está leve, são, e pensa em começar a vida outra vez, limpando o passado, te convidando para uma volta que será o tempo de dizer o que se pesa antes de dizer, o medo, mesmo querendo ser outro, mesmo querendo ser nada, com você ele pode conversar sobre as horas, as cores, a casa de pé direito alto que te abriga, a vida que te separa de não esperar mais que um momento, tempo exato da felicidade. quem sabe, a hora onde não se entende, não se lembra, a hora passada antes de chegar. esboço solitário do devir.

quinta-feira, junho 17, 2010

desenho mediterrâneo #1

o som da noite aqui é quase tátil, quase azul, e eu sei que te procurar por essas ruas talvez seja um jeito de querer te achar em casa, entre as almofadas que são a cor do seu dia-a-dia, sua morada, e enquanto você dedica a vida ao meu sonho, eu me dedico a te encontrar, dizendo que é simples o caminho pra você, dizendo: fica, que você quer estar aqui, e sabe que eu penso e repenso tudo antes de ser, de escolher quem eu posso representar na sua fábula, de verde lá fora e parede branca coberta de papel avermelhado, foto cortada, alma de velho, eu sei, te conheço bem, alma de fada. pois bem, não doeu, não é nada.

absolutamente nada.

terça-feira, junho 15, 2010

a base das considerações

você pode até achar que a espera é longa. quem sabe exatamente o que deve ser feito está ignorando o tempo, o acaso, a sorte de topar com a sua própria realidade e finalmente fechar um ciclo de vida. a matéria prima para ser quem se quer não é óbvia, não está organizada em livro ou dá pra baixar na internet, a solução chega com a vivência, o erro, a escolha equivocada, chega com a admiração e loucura de qualquer sonho impossível. tentativa e transformação. qualquer idiota segue a vida, deixa a vida ser e não responde, já os que andam com a urgência no bolso precisam de movimento, de observar a beleza nos outros para encontrar algo de si, um pedaço próprio, perdido, que na frente encontra outro, e mais outro, e os seus pedaços criam uma imagem temporária e plena da emancipação que é o exercício de viver o exercício.

equalizando a distância entre a elaboração e a prática.

quarta-feira, junho 02, 2010

entrepausa

por toda a cidade as coisas ficam entre a luz do que ele quer e a percepção do real, desenhos cuidadosos de uma coisa possível, um outro sonho, que quando acontecer será melhor e diferente da imagem factual de elaboração, confecção simples e artesanal do desejo, colorido, ela, sempre ela, a incógnita da vontade, o esboço da realização. ele quer o amarelo do impossível. e com urgência.