terça-feira, julho 21, 2009

#1

a luz que agora corta o tecido negro do vestido não mostra todos os detalhes, ela, white album dos beatles, all star sempre branco, pintas nos braços de uma pele na tonalidade exata do sonho, da vertigem, do desejo que me tira da estrada perfeita. é vontade de fugir, de roubar, de ser o estranho de mim mesmo, outro cara, o que perambula pelas ruas vazias na madrugada da zona norte, perdido, pensando em livros de viagem, com vontade de ser abandonado e chorar por toda parte onde ela não esteja, perder a medida, a paciência, telefonar a madrugada toda para o outro lado do atlântico, entender o que nela existe de melhor.

o que pode ser só construído nestes olhos de louco, olhos que adoram enxergar em seu corpo minha própria luxúria, vontade que esmaga o bom senso enquanto quero tocar-lhe os cabelos, no meio do salão escuro daquela noite, fotografia em cor de cinema, querendo que o mundo acabe no hotel perdido da esquina, com tudo que tenho a dizer, os dois bêbados correndo os bares, falando demais e querendo carinho, existindo, antes de qualquer pensamento, antes da culpa, por uma noite ser isso nos bastaria. talvez duas. talvez acabasse em desgosto, sofrimento ou em mágoa. e seria então eterno. o verbo. seria.

domingo, julho 19, 2009

prontuário do platônico

prontuário: livro, manual que contém fórmulas e indicações úteis de modo a achar prontamente o que se quer saber.

platônico: o que é puramente ideal, casto, relativo à escola e filosofia de platão, utopia ou idealização.

sexta-feira, julho 17, 2009

hotel que recusa ser espaço. não opina sobre música, vida alheia ou qualquer outro tipo de coisa. centenas de pedaços de vida, de dia, de vontade, letreiro de uma pessoa, sem bula, pedaço de alguém, recorte mínimo de encontro, de sonho, de exercício do pensamento sobre existir e representar, quando não acontece exatamente como foi é porque não pode ser equivalência o que importa, nem vida como ela é (pra ficar no campo do paralelo com o representar de outro), risco de fazer o que quer, odiar e amar o que vê, mais até do que vive. sentindo pode-se até acreditar no que não acontece. lugar de confeitaria, artesanato e nunca arte, contradição no que está aqui e acaba ficando com o outro lado. o que é meu sonho vira sua imaginação, seu olhos, seu jeito de me enxergar no espelho, bonito ou feio, apaixonado ou maldito, sou eu pra mim e pra você de outro jeito, mesmo os que estão aqui não são, são mais, são melhores. porque a vida pode ser melhor e não é, apenas por alguma razão estranha, por algum descuido, ou azar, que vai ver só acontece comigo, mais a verdade é que não sai, não acontece a hora certa, nem o vestido de cor, nem a primeira escolha, a narrativa da vida é a incerteza pura, diagonal, mesmo quando toda a energia desaba sobre a vontade existe o espaço que é movimento, física pura, não se sonha ao mesmo tempo que vive, sonho agora, vive é verbo futuro, mesmo não fazendo sentido é fato, e não é igual. nunca é igual, mas acontece.

essa aqui é a prova. diária e redundante de tão minha.

segunda-feira, julho 13, 2009

com a alma nas costas

vontade de um cigarro, pensamentos de organização para a vida, noite de gente estranha com clima jazz, ele vive em tempo real e a vida parece uma esquina onde não se entende o caminho, não se entende a receita, a cautela, onde só a surpresa diz o que é vida de verdade. quer o possível, o realizável, mas também quer o sonho, o delírio, a avenida aberta pela noite com vestido de festa, a sorte caindo no colo com presentes de cabelo amarelo, a madrugada em são paulo, os telefonemas, a loucura em geral.

quer ficar debilitado, perdido, mal-amado, quer ouvir os que difamam, encontrar as bêbadas com classe e pernas grossas, de quatro contra o chão do prédio de dois andares na vila madalena, ele quer as que sofrem por amor, as que choram abraçadas ao conhaque de alcatrão, maquiagem escorrendo pela cara, madrugada de café e pão na chapa, quer o sexo pulsando enquanto sente a vida voltar a correr pelo sangue, a roupa jogada na sala pela manhã, o final de tudo parece sempre inesperado. dádiva, imprescindível, dádiva.

terça-feira, julho 07, 2009



a banda de um homem só - por natalia valle