domingo, julho 25, 2010

do envelhecer amando

o amor aqui em casa amadurece de forma parecida ao crescimento das flores que cobrem a janela. a do ano passado está inesperadamente grande, forte e colorida. as desse ano precisam de mais espaço e vão, aos poucos, ocupando vasos maiores. você dorme aqui ao lado e já é hora de ir te acordar. evoluímos e crescemos juntos.

quinta-feira, julho 22, 2010

sonho número 401

é uma vontade tão descontrolada, coisa de não saber como algo fora de questão pode virar um pequeno hábito, que aumenta a cada passo em direção ao objeto, como uma promessa do impossível, cinza no fundo e manchas amarelas e azuis, como um vestido de noite contra a parede vermelha, quase isso, ou exatamente. para palavras que se quer usar, ruas possíveis, conversas intermináveis, as possibilidades são sempre a ruína de qualquer pobre diabo, faminto, grudado ao corpo mas correndo por fora dele, com o espaço inominável do cérebro onde se guarda esse tipo de coisa, lugar que ferve, lugar que arde na bagunça de ser a expressão descontrolada do inconsciente, que deveria dormir em paz, que nem deveria existir, escapando pode ser perigoso, destrutivo, um horror para a sanidade do óbvio, mas colírio para a sanidade da alma.

quarta-feira, julho 21, 2010

pequeno dicionário de vidas

ele chega por volta das dezoito horas, descendo a paulista devagar, ainda existe luz do sol, mesmo com as lâmpadas aquecidas para uma longa madrugada, quer vê-la porque está fora do juízo, porque não pensar também faz parte das escolhas possíveis, as coisas são o que são, e ninguém pensa na hora de fazer exatamente o que quer fazer, ou pelo menos não deveria, ele aceita a consequência e aproveita o momento para ser o dono da situação, escolher com que tipo de crueldade vai conduzi-la até o hotel e ser o homem que ela precisa. afinal, ela quer e toda necessidade é urgente. faça a sua vontade. com o ódio que ela merece e seu profundo e inevitável prazer. os dois ganham.

sexta-feira, julho 09, 2010

meu abrigo

já vivemos tanto, por beijos, por gritos, por ódio temporário e amor contínuo, mas quase nunca conseguimos não depender um do outro, você precisa estar aqui pra me fazer melhor, minha mulher, esposa, companheira, nunca duvide da força que me move até você, da falta que sinto antes mesmo de pensar, do como essa casa só existe porque você move a nossa vontade, organiza a minha falta de jeito, é grande até quando precisa de mim. eu que sempre te quis, eu que não sabia que a vida era tão fácil até a vida virar metade você, olha agora, percebe o quanto tudo que fizemos tornou o amor natural, uma obviedade de te procurar ao lado do meu corpo, no quarto, no banheiro, no tempo que nos levou de uma janela sem cortinas, de uma cama curta a um longo abraço, e estamos aqui, não precisando pensar no amor, nem na palavra, pensando em livros, em trabalho, em vida após os 22, ou 28 no meu caso, somos maiores porque somos dois, e não tenho medo nem vergonha de dizer que preciso de você em casa, dos seus conselhos, sua raiva, preciso para ter certeza que existo e faço sentindo, que na morte, quando o filme passar editado pela cabeça só vai dar você, em cores, fotografada na luz do jardim da chácara do céu às quatro da tarde, entre o amarelo e o verde, um dia inteiro feliz, como sair da água do mar naquela tarde no leblon, ou sentir sua mão na cabeça enquanto vomitava voltando da morte com o sou nascendo no ano novo. meus buracos, meu orgulho, tudo que me diz respeito vai passando por você e entendo isso dia por dia, como que narrado pela sua voz. eu só sou o que você é comigo. uma coisa só. óbvia, direta e indissociável.

terça-feira, julho 06, 2010

desenho azul e preto

pela rua, como em uma folha em branco, ela pisa as pedras do largo qual ao rio são francisco. a vontade ferve por dentro, a respiração é qualquer coisa, quase o não pensar, o corpo tomando conta, o cérebro vazio e áspero na teia do caminho que deságua naquele sobrado azul. ela sobe.

- quer que seja assim?

- sim.

a blusa de listras ultrapassa a pele dos braços como quem diz que é necessário, ela vai mostrando o corpo e estaciona como uma entidade para seu ebó, purificando instantaneamente a alma. o ruído das pessoas, a luz do fim do dia inundando as persianas, tudo parece desacelerar.

e ele não tem tempo de nada além do que olhar por horas.

sem palavras.