sexta-feira, julho 25, 2014

logo eu

que não me vendo. contando os passados, o rádio do vizinho, miudezas desagradáveis da vida quando estaciona, querendo um copo de bar com diana caçadora, a marini, que segundo conta a internet não é só heroína em biblioteca pública, como também nome de travesti, olha só que surpresa, se eu estivesse bêbado provavelmente dormiria com a notícia, e se tivesse tempo talvez deixasse pra amanhã essa certeza que pouco importa qualquer coisa. você ou qualquer um. marco zero do meu tédio e desgraça dos desavisados. não se assuste que não vai doer nada. 

terça-feira, julho 08, 2014

tempo

quando a memória é um erro, o passado é a entidade da vergonha. quando a lembrança é de acertos ocasionais e fortuitos, o passado é o lugar mais confortável, o melhor abraço no caminho, que prende, emociona e conforta. agora gosto de olhar os fios brancos da minha barba, que nascem do mesmo jeito, como promessas de presente para mais fios e lembranças. também me admira observar meu cabelo crescendo com as marcas de tantos cortes de três décadas, estabelecendo seu caminho em voltas retorcidas, espessura e espaço útil dizendo que existe uma história, cheia de fragilidade e aprendizado. e o cabelo cresce todo dia, como os dias renovam o tempo, e nenhum deles esconde os desvios ou mente a história de uma vida cansada de passados. futuros e acasos, eu ainda acredito. papo de perito. 

segunda-feira, julho 07, 2014

rede social

o tempo pra pensar não volta. nem os noventa minutos do documentário. os passos que não existiram até a padaria, o almoço de uma hora com o amigo desaparecido, o vento na janela do ônibus em uma terça-feira na boca do aterro do flamengo não volta. o correr de uma tela azul e branca come um pedaço por vez de cada coisa que pareceria tédio, tempo perdido, e vai comendo mais do que você não percebe, seu ego, entre vídeos de gatos e opiniões que não importam, a vida continua andando e perdendo um pouco de cada coisa antiga, o suspiro, a dúvida, a falta, o desperdício vira desperdício. troca-se a surpresa de algo que emocione pelo mesmo eterno de uma caminhada entre fotos diárias de atividades alheias, o falso contato, o outro lado presente, o amigo invisível é coletivo, atividade reconhecida e amplamente divulgada, o medo da vida venceu. e poucas alternativas nos lembram que caminhar sozinho é uma escolha atual, mesmo que ironicamente seja a única experiência realmente pratica da vida. que exista respiração para além desse bololô de cartas de náufragos, de carência e ódio. que exista, enfim, algo que nos justifique.