sexta-feira, junho 30, 2006

Por acaso.

Procurando um sentido às seis da manhã coloco pra tocar um show só para iniciados do cara que mudou a minha vida.

Ele por algum motivo resolveu tocar depois dos 30, chegando aos 40 em um lugar pequeno só pra adolescentes. Entre gritos de "Eu não acredito que estou vendo esse show!" e "Lindo! Lindo!" escuto as frases:

"Todos os dias eu venho ao mesmo lugar. Às vezes fica longe, difícil de encontrar. Mas quando o neon é bom, toda noite é noite de luar"

Por essas e outras que eu não me mato, nunca.

quinta-feira, junho 29, 2006

Hotel para pessoas completamente perdidas

O Hotel para pessoas completamente perdidas passou por uma reforma. Um belo trabalho. Muito obrigado senhorita Julia.

Agora as pessoas perdidas de todo o mundo podem descansar o coração em um lugar mais bonitinho.

Grato, a direção.

terça-feira, junho 27, 2006

Nós dois e os Beatles

Agora faço uma coleção de sonhos. Acredite ou não: os meus sonhos são incríveis. Guerras de faca na África do Sul ou donas de mercearia que lucram mais com cocaína. As vezes caminho ausente pela praia na madrugada antes de sonhar.

Só que agora deu vontade de voltar a 1994. Até então eu não fazia idéia que iria querer um dia uma mulher-companheira-amante-irmã. Eu acho que nem pensava muito nisso. As mulheres eram bonitas ou feias, brancas ou negras, gordas ou magras. Mas nunca eram minhas. Muito menos não-minhas.

Elas eram mulheres. Eu nem pensava muito nisso. Falei para os amiguinhos a infância inteira que a minha mãe era linda. E olha: era mesmo. Achei na escola só uma garota bonita e pensando agora, acho que ela talvez não fosse a única, nem a mais bonita.

Só que mesmo sem perceber: ela foi meu par. Um par que em 2006 faz todo o sentido pra mim. Sempre sentada ao lado, com um silêncio, um sorriso e a compreensão de quem pode ficar ali pra sempre. Acho que nunca cheguei a fazer nenhuma análise justamente por isso. Naquele momento aquilo era tudo e parecia durar pra sempre, era só olhar ao lado e sorrir.

As férias chegavam e acho que a saudade acabava sempre perdendo para as descobertas que a liberdade da escola sempre traz. No máximo um de nós dois tentava um telefonema. Era a coisa mais bonita e infantil do mundo.

Até que um dia as férias terminaram em outro mundo. Mudei de colégio, de amigos, de praticamente tudo. Era 1994. Antes das aulas começarem fui convidado a jogar voleibol na casa de um vizinho que logo seria companheiro de sala.

Não era amigo, nem colega, no máximo conhecido. Mas como já fazia parte dessa futura sala, achei interessante conhecer os novos amigos na casa dele nesse vôlei com meninos e meninas.

Aí rapaz. Aí que foi o lance! Foi só pisar na casa do cara e bater logo de frente com ELA! Só pensava que nunca tinha visto na vida alguém assim. Era um sorriso, era um vestido, era tudo e pronto. A única coisa que eu sabia é que não conseguiria de jeito nenhum trocar duas palavras com a tal menina.

A tarde passou assim. Conversei com todos, menos ela. Nem olhar, eu olhava. Com as outras pessoas eu era o social, o novo colega, o que tinha um comentário diferente.

Já ela com aquele vestido amarelo no máximo cruzava um sorriso que me dava um frio enorme na barriga.

Dali até as aulas nos pensamentos só deu ela.

Um amigo que era irmão da melhor amiga dela, um dia me disse a senha: "Olha cara, pelo que eu ouvi, ela também gosta..."

Tem noção? Eu era o herói. Agora não tinha mais jeito. Era namoro, casamento, pra sempre. Era tudo meu amigo. Quem me segura?

Mas e a coragem?

O ano inteiro os mesmos horários. Terça e Quinta era educação física as 18:00. Eu e um amigo apaixonado na tal irmã do outro, melhor amiga, chegávamos lá. Sempre com a esperança de que seria aquele o grande dia. Uma conversa casual, do nada... e pronto: tudo resolvido. Quarta e Sexta aulas de jazz às 19:00 e os dois novamente lá na porta.

Mas e a coragem?

Até que um dia a melhor amiga resolveu acabar com aquilo e me disse:

- Então... Ela quer ficar com você. Você quer?

- Quero. Quero sim...

- Vamos fazer o seguinte: Ela sai da escola e anda duas quadras. Você espera isso e depois vai lá falar com ela. Está mais do que na hora de vocês resolverem isso!

- Tudo bem...

Então ela saiu e caminhou as duas quadras. Acompanhei os passos de longe. Ela parou. Eu parei.

Não consegui dizer nada. Nem ela.

Caminhou mais duas. Eu também.

Nenhuma palavra.

Mais algumas quadras. Trinta metros de distância entre nós dois.

Não dissemos nada aquele dia, nem no outro, nem nunca mais.

Esse "nunca mais"... é claro... durou até 2001. Que já é outra longa história.

domingo, junho 25, 2006

Listas


Nunca gostei de listas e nem de listar qualquer coisa, mas acabei de pegar o jornal na portaria e fiquei curioso pra ver essa lista do Globo: "100 brasileiros geniais".

Antes de abrir a lista já pensei: "Não vai ter o Raduan Nassar... nem o Luiz Fernando Carvalho..."

Mas por incrível que pareça, eles estão sim! Infelizmente ao lado do DJ Marlboro e da Glória Pires. Resolvi fazer então as minhas listinhas dentro da lista do Globo, que na verdade são listas-de-porra-nenhuma, só comentários sobre uma massagem no ego de alguns brasileiros que merecem isso mesmo.

- Os que não deveriam estar:

01- DJ Marlboro
02- Glória Pires
03- Jamelão
04- Lefê Almeida (?)
05- Cleyde Prado Maia (??????)

- As surpresas boas:

01- Raduan Nassar
02- Luiz Fernando Carvalho
03- Nilton Santos
04- Yamandu Costa
05- Roberto Damatta

- Os gênios que ficaram de fora:

01- Edu Lobo
02- Júlio Bressane
03- Alberto Dines
04- Roberto Mangabeira Unger
05- Isaac Karabtchevsky

quinta-feira, junho 22, 2006

No táxi que me trouxe até aqui Mano Brown me dava razão...


"Deus fez o mar, as árvore, as criança, o amor. O homem me deu a favela, o crack, as trairagem, as arma, as bebida, as puta. Eu? Eu tenho uma bíblia véia, uma pistola automática e um sentimento de revolta. Eu tô tentando sobreviver no inferno".

terça-feira, junho 20, 2006

Vovó Hardcore

Pizza com um cafezinho é o que a vovó hardcore come no lanche de final da tarde.

Mas hoje ficou com vergonha do meu olhar assustado e pediu um doce de banana.

Aposto que depois comeu a pizza.

Vivendo e aprendendo com as padarias da vida.

segunda-feira, junho 19, 2006

Suicídios, sábados, cigarros e flores selvagens.

Minha casa no sábado parece um hotel desabitado. Cláudia grita pelos corredores e pede atenção. O som toma conta da casa-hotel. Bebo cervejas e fumo cigarros. Não assisto filmes há anos: quero ouvir o telefone tocar, quero fazer sexo por dias com essa garota azul. Hoje ela está de rosa. As flores selvagens tem que cor hoje? Não assisto tv a cores, não vejo nada colorido. Mas ela ama o rosa e eu o azul. Hoje sem conclusões geniais por favor, quero continuidade, quero ver a cor dos olhos.

Beber, fumar, receber telefonemas, ouvir sirenes de bombeiros. Não encontro as letras certas na máquina de escrever, mas sou persistente. Cláudia, você está longe? Me canta uma canção qualquer, hoje tem cadernos de cinema? Vou ligar pra sua mãe e dizer as coisas que não tenho coragem. E as meninas que passam pela Catarina 128? Você tem ciúmes?

Você sente ódio? Grita? Chora? A Macumba não consegue transformar Cláudia. A serra me faz vomitar aos sábados. Hoje é maio de 2005 e eu estava com saudade dos seus gritos aos sábados, do seu ódio aos sábados. Vou andar no sereno da serra, vou te levar para o gramado da casa e trepar como nunca. Beijar os seios mais bonitos, amar a mulher mais bonita.

Hoje você me disse coisas que não diria a ninguém, hoje você disse que me ama sem empregadas, sem dinheiro. Senti vontade de chorar. Vai me amar até quando? Até quando durar a palavra amor? Acho que vou me matar hoje Cláudia, acho que o seu amor não vai durar pra sempre, vou me matar. Lá fora começaram os primeiros pingos, vamos fazer amor?

Você morre comigo? Claro que não, nem pense nisso. Raduan Nassar nem escreve mais. O que eu estou dizendo aqui meu Deus? Deus é químico? Deus trepa? Escreve as minhas cartas? As minhas canções? Deus tem pena?

Cláudia, o telefone ainda não tocou, são 02:48 e nada. Já consigo escrever as palavras aos poucos. Quem viveria em Teresópolis a essa altura? Quem te traria até aqui com essa sorte? Por que você veio? Por que está aqui até hoje? Eu sou um louco. Até o fim dessa história certamente me matarei? Te matarei? Matarei alguém? Se soubesse diria.

O disco acabou e ainda não sei a resposta, é um fluxo. Flores selvagens? Imploro o seu carinho cada dia mais, imploro a sua saudade. Vou parar antes que a loucura domine estas cartas. Antes que as cartas me dominem, dominem a bebida, os cigarros, o silêncio, o suicídio e as flores selvagens.

Ódio, como se escreve? Tudo mudou em 7 dias, o mundo mudou em poucas horas. Mas aqui na serra pouca coisa mudou em 2 anos, só algumas canções. Eu juro que tento ser forte, mas a disciplina falta. Raduan me salva! Me conta o segredo, por favor. Japonesas povoam o mundo, o suicídio e o meu pensamento. Mas Cláudia domina o meu coração.

Bebo, fumo cigarros, choro no chão por Cláudia, mas um dia o mundo muda, as canções mudam, existe vida além da química? Existe química? Não me leve a sério Cláudia, só estou bêbado.

Ela tem a cor da paixão nos lábios, e o meu coração desde aquele bilhete que ignorou. Você lembra do bilhete? Claro que lembra. Hoje disse o que não diz a ninguém. Mas até quando vai suportar isso?

Até quando vai me suportar? Com as minhas derrotas e meus erros? Você é a filha mais bem-nascida, a segunda filha da minha vida. Você não sabe o que é amar o quanto eu te amo.

Mas também não vai importar muito. Se amanhã eu acordar melhor, vamos nos amar com lágrimas nos olhos, acho que é o mínimo.

sábado, junho 17, 2006

Diálogos com Gil e Gilson (Cosme e Damião)

- Ah...Você são gêmeos né?

- Somos sim. riririri

- Pois é. Imaginava.

- Como é o nome mesmo da cidade de vocês?

- Bananeiras.

- Você conhece João Pessoa?

- Não.. eu só fui a Natal.

- Natal é bonito né?

- É sim. Muito...

- E da copa? Estão gostando?

- Não. A gente não liga muito.

- O Gil gosta do Flamengo... mas eu não gosto de futebol.

- Ah... o Gil é Flamenguista então?

- Sou sim. Mas é mais pela camisa... eu acho bonita, mas não ligo muito pra futebol não.

- Agora tem eleição depois da copa né?

- Tem, tem sim.

- Eu vou votar no Lula.

- Por que?

- Ah... porque sim. Quem é o outro? Alck...

- Alckmin.

- Ele é bom?

- É... é bom sim.

- Qual o partido dele?

- PSDB.

- Ah...sei lá... talvez eu vote no tucano.

- Então... o tucano é do PSDB: o Alckmin.

- Ah tá.

- Na verdade, acho que vou votar no mais bonito. Quem aparecer aí na televisão rindo... e me parecer mais legal, eu vou votar. Se o cara vem e aperta a minha mão então... nossa...voto na hora!!!

- É Gil...vou te falar que entendo isso.

:: pra entender: http://chelseanights.blogspot.com/2006/03/cosme-e-damio-ou-gil-e-gilson.html

terça-feira, junho 13, 2006

These Foolish Things, Bela...

Ela leu isso aqui alguma vez mais? Ela sabe que aquela blusinha da foto é a coisa mais linda? Ela sabe que sou só uma página ainda pouco rabiscada? Acho que isso ela sabe sim. Acho que ela sabe até demais.

Parece até que é Paris. Parece até que é Chet Baker. Parece até que é Marlboro, janela e cool jazz baixinho às 02:53. Mas talvez seja só 2% de um romance, 5% de um disco ou 0,2% de um casal. E aquele sorriso que não sai da cabeça? Só me ensina o que eu faço com ele. Seria bom demais saber.

Acho que é feliz no sentindo mais restrito ou talvez no mais óbvio. Claro meu caro, que é possível esse romance todo de cinema americano old school, mas só ali: pele na pele, boca na boca. Amanhã ela tem aula cedinho?

Tem é medo. Tem é muito medo. Do psicopata maior, do homem mau que amou algumas poucas, que fez sorrir aquelas que não sabiam que o preço disso tudo seria chorar demais depois. Ela tem medo. Ela ficou é assustada. Assustada com o bom tom das frases dele. Com a coragem de quem enlouqueceu só com aquele sorriso de atriz de qualquer filme europeu.

Você me diz agora: Que merda de olhar é esse? Que bosta de sonho é esse que eu tenho só de olhar? Te levaria para passear pela cidade de São Paulo. Só que agora por favor me diga: Eu lá tenho cara de psicopata? Até escrevo um breve currículo do não-psicopata que sou:

24 anos. 3 amores. Uma faculdade de direito abortada. Outra de Comunicação cagada pelas pernas, umas musiquinhas aí de mentira, umas mentirinhas aí de plástico. Dizem até que tenho talento. Ainda não descobri pra que se tem isso e muito menos se utilizo para algo que alguém pague em dinheiro.

Mas olha, eu fui o melhor aluno até a quarta série.

segunda-feira, junho 12, 2006

Diálogos de elevador

- Tudo bem?

- Tudo. Tudo bem...

- Indo para o nono.

- Não tem problema, vou com você até lá e desço depois.

- O que é isso aí? Um violão?

- Não. É um contrabaixo.

- Deve ter custado caro isso aí né? Um CONTRABAIXO...

- Mais ou menos... não é tão caro assim...

- Eu arrumei meu CD... é... eu arrumei meu aparelho de CD!!!

- Ah... legal....

- Deus te ouça que meu aparelho de CD fique bom...

sábado, junho 10, 2006

Só o agora

Realmente preciso falar de urgência nas músicas. Acho que ainda não caiu a ficha pra ninguém que o presente fala mais alto nos nossos dias, e fala da forma mais bonita e violenta possível.

Não sei ainda como fazer isso. Mas sei exatamente que é isso que tenho que fazer.

Então aguardem muita violência verbal e urgência vindo aí...

domingo, junho 04, 2006

Leblon - Botafogo

Quando você entrou no ônibus ainda era Leblon. Não muito antes das 00:00 olhou para o gesto mecânico do trocador enquanto guardava as moedas que sobraram. Era o único passageiro.

Depois de alguns segundos de vento frio na janela, a loja de sucos informa ser Ipanema. Logo no primeiro ponto sobe a tal fotógrafa que te olha sempre com desejo. Só que hoje não, o encontro totalmente ao acaso e o vazio dos assentos fizeram a mulher de cabelos negros desviar o olhar de sua presença.
Ela atravessa veloz o corredor e se acomoda fora do raio de visão.

Você até ensaia pensamentos de coragem, mas era tarde pra qualquer coisa do tipo. Imagina ser zona norte o destino por achar exótico um futuro sexo, um futuro casal com uma história de pseudo-intelectuais alternativos. Mas você não tem nem certeza da opção sexual de lady fotógrafa, muito menos cara-de-pau para tentar qualquer conversa fiada. A cada ponto olha de lado quem passa pela janela.

Seria Copacabana? Clichê hein fotógrafa? Você pensa enquanto mente ter coragem de descer junto e falar um: "Vem aqui." Esse bairro é enorme e são tantos os pontos. Na travessia Bairro Peixoto-Botafogo para coroar o estranho da noite, o dono de gravadora independente (agora barbudo) paga a passagem da namorada e senta evitando qualquer certeza de reconhecimento.

São João Batista. Algumas paradas mais e pronto: Ela com a mochila nas costas desce justamente no ponto anterior ao seu. Vocês sabem que aquele papo de romance e blábláblá vai acontecer. Não a essa hora da noite, não sem antes uma história dessas pra martelar a cabeça por algumas semanas.

As ruas de Botafogo ficam estranhas, tão frias quanto essa madrugada.

Ela mora perto.

Olha, ela mora tão perto.