domingo, junho 04, 2006

Leblon - Botafogo

Quando você entrou no ônibus ainda era Leblon. Não muito antes das 00:00 olhou para o gesto mecânico do trocador enquanto guardava as moedas que sobraram. Era o único passageiro.

Depois de alguns segundos de vento frio na janela, a loja de sucos informa ser Ipanema. Logo no primeiro ponto sobe a tal fotógrafa que te olha sempre com desejo. Só que hoje não, o encontro totalmente ao acaso e o vazio dos assentos fizeram a mulher de cabelos negros desviar o olhar de sua presença.
Ela atravessa veloz o corredor e se acomoda fora do raio de visão.

Você até ensaia pensamentos de coragem, mas era tarde pra qualquer coisa do tipo. Imagina ser zona norte o destino por achar exótico um futuro sexo, um futuro casal com uma história de pseudo-intelectuais alternativos. Mas você não tem nem certeza da opção sexual de lady fotógrafa, muito menos cara-de-pau para tentar qualquer conversa fiada. A cada ponto olha de lado quem passa pela janela.

Seria Copacabana? Clichê hein fotógrafa? Você pensa enquanto mente ter coragem de descer junto e falar um: "Vem aqui." Esse bairro é enorme e são tantos os pontos. Na travessia Bairro Peixoto-Botafogo para coroar o estranho da noite, o dono de gravadora independente (agora barbudo) paga a passagem da namorada e senta evitando qualquer certeza de reconhecimento.

São João Batista. Algumas paradas mais e pronto: Ela com a mochila nas costas desce justamente no ponto anterior ao seu. Vocês sabem que aquele papo de romance e blábláblá vai acontecer. Não a essa hora da noite, não sem antes uma história dessas pra martelar a cabeça por algumas semanas.

As ruas de Botafogo ficam estranhas, tão frias quanto essa madrugada.

Ela mora perto.

Olha, ela mora tão perto.