domingo, outubro 11, 2009

casa-estranha

voltar ao lugar onde outra vida aconteceu é uma experiência estranha. já esqueci nomes, pessoas, lugares, e algumas coisas estão no fundo da memória e precisam ser buscadas com cuidado, já que o passado é um espaço que parece não me pertencer, não me dizer respeito, guardo apenas fragmentos de amizade, cuidado, carinho, vergonha, fragmentos de amor fora da data de validade. ando hoje por ruas menores que as que ficaram na cabeça, casarões afetivos destruídos, amigos casados já são pais, outros ainda moram na casa da mãe, na verdade não são mais meus amigos, aqui só restam os amores familiares, os amores maternos. não me reconheço na pessoa que fui até os vinte anos, só guardo as leituras, os filmes, o vhs didático, a descoberta da vida que viria no futuro. acho que tudo mudou em uma noite de sexta-feira, de outubro como agora, ou novembro, sean lennon tocando no rio, ao vivo na minha tv, entre tantas outras coisas que mudaram o que sou, o que poderia ser, mas mudei e foi preciso, um processo de oito anos, ciclo complexo, difícil de carregar nas costas, contado aos pedaços por aqui e com cortes, amadurecimento que quer dizer redenção, sou outro, mais forte do que o cara que um dia partiu, dilacerado, agora a vida chega na esquina. e tudo é tão novo quanto um belo adeus.