terça-feira, setembro 30, 2008

Final do Ciclo

Setembro acabou e o que vai ser de Outubro ninguém sabe. Chuva, trânsito, cinemas, pessoas, continuação de cenas da película, quem sabe? Tudo fotografado pelo Walter Carvalho?

Que outubro seja um sonho cor-de-sonho desfocado.

quinta-feira, setembro 25, 2008

As Ruas Sem Fim

Um intervalo entre o último ruído e a voz, ela no caminho entre as pessoas, sorrindo, e as ruas esperando os passos que ainda não chegaram, em vila isabel ou nas laranjeiras, os carros, o tempo que não se decide entre o frio e o meio-calor, as luzes amarelas mais bonitas que as brancas ainda são maioria apesar do preço, e a cidade em silêncio apaixonado nos dias de setembro, o mundo pensa melhor sem barulho. Sem pressa de chegar ao longe.

Nos hospitais, nos cinemas, na praia de Botafogo iluminada pelos néons do caminho, no amigo cansado que escuta uma canção do nosso lado no ônibus, nas praças, avenidas, viadutos, no estádio ao lado da Universidade onde os fantasmas de um século resolvem passear pela madrugada vazia, entre as pessoas, o vai-e-vem dos cães vadios, os semáforos no amarelo intermitente, uma cidade que ainda se apaixona, que ainda me emociona.

Quando às duas da manhã sorrindo sentando no ponto de ônibus, com um cigarro estranho e pela metade nas mãos, a chuva resolve cair soberana e linda sobre a Rua das Laranjeiras.

A felicidade é isso e ai de quem disser o contrário.

quarta-feira, setembro 24, 2008

Começando a Primavera Sempre

"Meu bem, guarde uma frase pra mim dentro da sua canção
Esconda um beijo pra mim sob as dobras do blusão"


O sol não queima enquanto escuto o Belchior cantando nos fones de ouvido pelas curvas do Catumbi ao meio dia. Só sinto que devo continuar vivendo assim, com calma, deixando a vida ser o que ela precisa, movimento, transformação ou pausa dramática.

Momentos de sol no rosto não me acontecem ao acaso, eles resolvem chegar quando o caminho começa a ficar esclarecido, e ultimamente tudo o que deveria fazer sentido, anda fazendo, os dias são para o sacerdócio diário de viver, de sentir a felicidade, abraçando forte quem eu gosto, de não sentir vontade de levantar da cama, de ficar com ela ali por horas, ficar com a alegria também, justa e calma, acertando o compasso, ouvindo as músicas tocando mais de uma vez no espaço do quarto.

Eu quero continuar andando.

E tomando Coca-Cola, comendo nos lugares errados pela madrugada, ou não, obedecendo a boa alimentação para evitar as gastrites da vida, bebendo vinhos novos, conhecendo coisas e pessoas, lugares, sonhando com as luzes de São Paulo a noite, metrópole iluminada por meus sonhos e coração aberto, ouvindo músicas com cheiro de nossa vida nova, com frases sobre refrigerante e cachorro quente, sobre "meu bem", sobre a vontade de viver. Tendo a coragem de ser o que se precisa.

E eu não preciso de quase nada além da minha própria vida.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Cardiologista, não. Coração, sim.

Eu não escrevo sobre música, eu escrevo música. Diferença básica, mas não tão clara nos anos 00, todo mundo quer agora sentir o gostinho de ficar perto da canção, quer tirar um sarro, quer passar a mão, mas entre o falar sobre e ser o que se fala, existe um abismo. São dois mundos sem ponto de contato.

Existe quem trabalha e existe quem especula, como em qualquer lugar. Mercado de capitais, esportes, chão de fábrica ou canção popular de três minutos que te faz dormir melhor.

terça-feira, setembro 16, 2008

Meta-Chelsea-Nights

Ando refletindo sobre este blogue-hotel e cheguei a conclusão que ele, de alguma forma estranha, consegue retratar e fazer sentido com tudo que aconteceu na minha vida de 2005 até aqui. Os textos muitas vezes não tratam do que eu vivo em si, ou não são tão óbvios quando tratam, mas em alguma esquina tudo que foi escrito nesse espaço se encontrou com o que eu pensei, quis, desejei, e principalmente, com o que eu quis viver nesse bom pedaço de tempo. O meu fio-da-meada está todo aqui.

São quase três anos com partes grandes de uma vida guardada, mas o que interessa mesmo é que cada parte dessa trajetória me faz feliz como texto puro, não é vida limpa e escancarada; e até quando é vida mesmo, acho que consigo chegar perto da melhor parte, da parte que realmente deveria ser contada, nem que seja só pra mim. Guardo assim o que talvez a memória não consiga.

Já disse a alguns amigos, mas quero dizer para todo mundo que de alguma forma acompanha esse blogue, que decidi só termina-lo em Nova York, hospedado quinze dias no Hotel Chelsea escrevendo diariamente pra colocar um ponto final nessa história. A idéia é que depois disso a aventura vire um livro, mas até lá ainda existe muito chão. Isso deverá acontecer em um inverno americano de um dos próximos anos, mas por enquanto continua tudo normal, já que tenho muita coisa pra viver e colocar aqui.

Espero que até lá este espaço continue crescendo e me dando a alegria que sempre dá. Outros leitores e amigos aparecerão.

Para um blogue que não tem assunto específico, não trata de tantas futilidades de interesse geral, quase nunca tem figuras, só texto corrido e não é um diário no sentido usual que os blogues tomaram, o Chelsea Nights até que tem mais leitores do que talvez mereça, e leitores da melhor qualidade, eu posso dizer. Então o único jeito de retribuir é continuar caminhando e escrevendo, agora com mais vontade e frequência nos textos.

Frequência na vida não falta. Porque até um dezembro qualquer de NY, nós vamos nos divertir muito ainda.

Beijos e obrigado,
MM

sexta-feira, setembro 12, 2008

300

Sempre dá vontade de chorar quando escuto ele cantando:

its testing the strong ones
scarring the beautiful ones
it's holding the loved ones
(one last time)


Acho que a morte não nos cai bem, em todos os sentidos.

quarta-feira, setembro 10, 2008

Segunda Metade do Amor e do Inferno

Acordei e o apartamento já estava vazio. Quando consegui encarar a sala, os móveis não estavam mais lá e o teto parecia não terminar nunca. “Eu ainda moro aqui”, pensei, e quis sentar no carpete que não vai sair do chão, o sol vazava a janela escancarada e fiquei por ali sentado, ainda ouvindo as músicas que tocaram na última festa, lembrei das pessoas dançando, da luz azulada que a Cecília colocou na estante de livros, ainda sei o que bebi aquela noite, as bobagens que disse aos amigos, e só assim sinto que faço sentido comigo. Ainda sou a pessoa que está aqui.

segunda-feira, setembro 01, 2008

Copacabana de (quase) Setembro

O frio cada vez mais forte e ela de cachecol sobre o agasalho, final da rua quase praia, vinho chileno pra escolher entre copos e mãos, escolhi copos quase automaticamente, estava mais para copos aquela noite. Todos os tópicos, sala, cama, palpites certos, papos, lá dentro o vento da rua não parecia grande coisa. O inverno postiço do Rio é carinhoso.

Saímos todos buscando uma sinuca que não fosse dessas institucionais. O taxista conta sua lenda sobre algo desse tipo na Barata Ribeiro, o porteiro meio louco dá certeza do que não existe na Siqueira Campos. Alguém sem nome acerta o clube Olímpico, estranho, sinuca no submundo-segundo-andar. Isso é claro, com o aviso anterior da tal festa do Bob. Antes uma porta que se abre para o cheiro de carne quase pronta e grisalhos que jogam cartas, tudo ali cheirava a contravenção. Algumas coisas eram.

- Quem é esse Bob? Ela pergunta e eu ainda juro ter ouvido que o Bob morreu. Copacabana dos sonhos do David Lynch.

Mas eu também achei que a velinha era um travesti, percepções estranhas da noite de Copacabana são assim. Saímos mesmo quase voltando, e eu gostei do bar com paraíso no nome, mas ele passou rápido nos olhos, acho que só nos nossos olhos, os outros dois viajantes achavam graça em alguma coisa diferente. A decisão ficou primeiro por um bar com pastéis gostosos e baratos, batatas quase completas, cervejas e Coca-Cola; depois o acordo de um filme.

Crimes e sono na cama que aconchegava muito. Como eu não percebi o contexto da cabeleireira francesa? Conseguia sentir o calor de todos de algum jeito e tive certeza que o inferno astral me esqueceu esse ano. Não veio.

Marsílea diria: 'Inferno astral não é Papai Noel, Maguinha'.

E eu acharia engraçado mesmo ainda sendo jovem.