segunda-feira, julho 07, 2014

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o tempo pra pensar não volta. nem os noventa minutos do documentário. os passos que não existiram até a padaria, o almoço de uma hora com o amigo desaparecido, o vento na janela do ônibus em uma terça-feira na boca do aterro do flamengo não volta. o correr de uma tela azul e branca come um pedaço por vez de cada coisa que pareceria tédio, tempo perdido, e vai comendo mais do que você não percebe, seu ego, entre vídeos de gatos e opiniões que não importam, a vida continua andando e perdendo um pouco de cada coisa antiga, o suspiro, a dúvida, a falta, o desperdício vira desperdício. troca-se a surpresa de algo que emocione pelo mesmo eterno de uma caminhada entre fotos diárias de atividades alheias, o falso contato, o outro lado presente, o amigo invisível é coletivo, atividade reconhecida e amplamente divulgada, o medo da vida venceu. e poucas alternativas nos lembram que caminhar sozinho é uma escolha atual, mesmo que ironicamente seja a única experiência realmente pratica da vida. que exista respiração para além desse bololô de cartas de náufragos, de carência e ódio. que exista, enfim, algo que nos justifique.