ele fuma seu cigarro enquanto espera o ônibus, impaciente, esse ritual diário não parecia mudar muito até que patrícia cruza a calçada com o passo acelerado, um rapaz de óculos acompanhando, vestido negro, cabelo pintado, ela desvia o olhar até ele, que agora também espera com os olhos, dessa vez sem rodeios, reconhecimento imediato dos dois estranhos. ela mantém o olhar, ele não sustenta, mas entreolha parecendo distraído com o movimento no ponto. ela pára e o acompanhante continua caminhando na direção do cinema. a interrupção lhe parece estranha.
- desculpa, mas posso te pedir um cigarro?
- claro, pode pegar.
- ah, não. é o seu último.
- que isso, pode pegar, vou comprar mais depois.
ela pega o cigarro e pede o isqueiro, acende e agradece, os olhos caramelo como ele imaginava vistos de perto, agora já não rimam com o cabelo, "uma pena", ele pensa enquanto escolhe sua fala para continuar com ela ao lado, não é necessário, patrícia continua ali até a próxima pergunta.
- era você em copacabana, não era?
- quando?
- desculpa parecer maluca assim, mas acho que você sabe.
- era, ou não sei, acho que era sim. por que?
ela solta a fumaça olhando para a rua, respira em um silêncio de meio segundo, parecendo pensar no que vai dizer.
- olha, agora eu tenho que ir trabalhar, se eu te der o meu telefone, você liga? a gente marca um café e conversa, pode ser? você gosta de café?
- gosto. anota o telefone aqui que eu ligo.
- então é isso, to parecendo muito maluca?
patrícia ri, envergonhada. ele também ri e diz que não, tentando parecer o mais natural possível. ela continua sorrindo enquanto escreve os números do telefone no papel. o ônibus que ele esperava já passou duas vezes por ali.
- tenho que correr, ela diz.
- beijo
- beijo