quarta-feira, outubro 15, 2008

Uma Vida Inteira Todo Dia

Ele quer um texto Universal. Qualquer um pode ler e encontrar o que precisa nas frases, entende o que quer e se acha especial de alguma forma naquelas linhas, o encontro não marcado entre quem escreve e a pessoa do lado oposto, o outro, o estranho agora íntimo. O ideal seria evitar as repetições de efeito, os clichês que emocionam a audiência, mas já são sentidos como falta de talento pra se transformar. O estilo é cruel e cobra seu preço.

Ela agora sonha com o fim que é o caminho. O ponto final nas coisas que devem terminar, o novo parágrafo no que começa amanhã e mais uma palavra para o que ainda falta escrever. É difícil ter disciplina na construção do que se sonha, ainda mais quando a vida resolve te ajudar com a oportunidade de conseguir a maioria de seus desejos, quando o destino não se opõe, quando tudo só depende de você e não é justo culpar qualquer coisa que não seja a si mesmo. Liberdade é justamente isso.

Não faz sentido sentir o peso de ser livre, mas acontece muito.

Ele abre uma cerveja pela manhã. Enquanto escreve a cabeça procura a razão de continuar querendo tanto da vida, talvez algumas escolhas sejam necessárias, as esquinas existem e não são definitivas, talvez lhe falte a sabedoria do tempo pra pensar, da reflexão como base para decisões importantes, mas seus sonhos são urgentes, alguns não vão esperar a vida toda.

Ele gosta justamente desses, sonhos bem maiores do que a própria vida, acontecem a revelia da mesma e se não forem agarrados no momento certo, amanhã não existirão mais. A soma de todos eles é que representa existir como sujeito, as pessoas andam esquecendo disso, de viver o sonho urgente e querem adivinhar o futuro o tempo todo, querem coisas bem explicadas pra depois cobrar exatamente o que foi planejado. Qual a graça de existir alguma coisa chamada "futuro" se você fica o tempo todo querendo no presente (outro tempo verbal) esclarecer o amanhã, abolir a chance única de se surpreender com o mundo, talvez a nossa única dádiva real seja poder começar a vida outra vez a cada dia que ainda se pode viver. Porque a verdade é essa, morreu, acabou. Todo mundo quer morrer de véspera?

Ele não sabe onde pode chegar, por isso pode ir aonde quiser.