terça-feira, janeiro 22, 2008

Lisboa

Às vezes eu telefonava pra lá logo quando amanhecia, só pra imaginar o telefone tocando no vazio daquela sala enorme e quase sem móvel nenhum, eu podia ver perfeitamente o sol nascendo na janela da frente, e até tocava Eleonor Rigby na minha imaginação. Na memória afetiva que eu tinha da Camila ali, naquele sofá azul, solitário no espaço todo do cômodo, e ela fumando e tomando café, linda, com os olhos do tamanho do bairro das Laranjeiras. Ela sempre dizia que eu ficava calado de manhã e aumentava o volume da música, gritando “fala alguma coisa”, e sorria, e repetia cada vez mais rápido, até me fazer rir também e dizer, enfim, algo que a agradasse de verdade, quase sempre foi desse jeito que aconteceu. A Camila nunca ouvia o telefone tocando pela manhã, ou quando ouvia tinha preguiça de ir até a sala atender, mas eu adorava isso tudo, só de ouvir o barulho que o sinal da ligação faz e esse filme todo correndo rápido na cabeça, quase como um sonho, daqueles que a gente sempre tem quando sente muito a falta de uma pessoa, acho que eu já sentia saudade de véspera mesmo. Naquela época eu não entendia nada disso direito.