terça-feira, agosto 29, 2006

Marcos ou Waterloo?

O sol queimava como nunca naquela tarde de sexta. Eu lá parado no Centro olhando a cara daquele crioulo cantando, uma coisa assim... inexplicável. As veias dilatando no rosto dele e os olhos pareciam saltar a cada nota. Nem os que passavam absortos deixavam de notar o que acontecia.

Alguns, depois outros, outros e mais outros: uma multidão. As frases da canção em inglês, ali pareciam sânscrito ou qualquer idioma inventado. Mas ele era foda! Cantava alto acompanhando-se em um violão velho de dar pena. Surrava as cordas e não tinha vergonha, medida, respeito. Nada.

Quando a música acabou todos correram pra deixar moedas e notas no chapéu jogado no chão. Ele sorriu com dentes perfeitos e aos poucos o aglomerado foi se dissipando. Eu tinha que falar alguma coisa. Passava por ali tão sem sentido, sem absolutamente nada pra pensar, que realmente tinha a obrigação de dizer alguma coisa.

- Qual o seu nome?

- Marcos.

- Olha Marcos, muito bom! Pode acreditar... muito bom mesmo!