ela gosta de responder que é escritora, que vive vinte e quatro horas pra isso. sente que encontrou o caminho, que essa é a batalha por sua verdadeira vocação, o capricho de seu dom. mas é só observar a expressão quando a pergunta é sobre o dinheiro proveniente da atividade. nada? você não ganha nada? ah, então não é trabalho mesmo? mas você não faz outra coisa? isso porque a educação sempre impossibilita a vontade alheia do quem paga por isso?
ela cospe que ignorância é assim mesmo, que esses porcos só querem mamadeira e danoninho, essa banalidade de uma vida não artística, que ser escritor é resvalar a sarjeta, que a arte alimenta e engorda. mas não lhe falta nada. com mãe, pai e marido, a mesa de queijos e vinhos é sempre garantida. na verdade, pra ser escritora, só falta o livro.