por mais que a semana fosse inundada por uma chuva longa, os sapatos encharcados, a alma perdida aos poucos para o exército de desconhecidos próximos, tudo parecia sempre a mesma coisa. ele pensou que valeria a pena tomar uma café feito em casa, convidar uma estranha, conversar sobre o nada.
- oi, te vi mais cedo, não tinha certeza se era você.
- oi, tudo bem? onde? nessa rua mesmo?
- é, atravessando ali. te vejo muito por aqui, mas nunca tenho certeza.
- é? eu ando muito por aqui, eu acho.
- pra onde você vai agora?
- pra casa... quer ir?
- pra sua casa?
- é.
- sério? não sei... onde você mora?
- copacabana.
- não sei...
- então...
- ai, não sei... o que a gente faria lá?
- sei lá, conversaria, posso comprar uma bebida, posso cozinhar, não tenho nada programado.
- nem eu...
- você sempre usa esse batom vermelho?
- rá... que engraçado. claro que não, né. não é todo dia que a gente usa batom vermelho. por acaso você lembra de me ver assim antes?
- é... não... não sei. hoje eu só presto atenção no hoje.
- mas você nem me encontra tanto. na verdade, nunca me encontra.
- é mesmo... nunca te encontro...
- mas e aí, não vamos à sua casa então...
- não... hoje, vamos hoje. vamos agora.