domingo, janeiro 23, 2011

inventário

fujo de análise e gostaria de sonhar mais, sem interpretação freudiana, porque viver não parece ser reflexo de pensamento, viver é atitude de diástole, abrir o coração a ser inundado por sangue, graças, é preciso agradecer a algo ou alguém essa bênção simples, que se repete por finitos anos e aproveitar-se disso talvez seja o foco dessa reflexão desnecessária, eu gosto de sol, de ir a praia com quem amo, de ver aquele amarelo que toma conta da descida da rua hermenegildo, eu gosto de onde vivo, de quem divido, do que como, e queria caminhadas breves até a próxima esquina dessa existência ínfima que é ser alguém com M no nome, que veio de um lugar quase sem sentido para os que não entendem as nuances, meus significados e signos, eu não estou afim de esclarecer, digo a mim mesmo, e não sentir necessidade disso é o próximo passo, pra poder ser só vida, largada no corpo, na pele que pode dizer mais que um cérebro, depósito simples de ansiedades, como um galpão do santo cristo, desses que já estão abandonados pela cidade há décadas, mas existem, e vão acumulando sujeira e todo tipo de inutilidade. uma bomba relógio deliciosa para os especialistas.

estar vazio é não depender do pensamento para ser feliz, cortar a ligação entre pensar e gerar prazer, porque o pouco de prazer não compensa o rio de frustrações, pelo analfabetismo emocional que é achar que determinadas atitudes vão gerar determinadas reações, nada volta porque nada existe, o nexo não é natural, ele é construído de acasos e elaborações, e é preciso deixar as coisas porque elas são o que elas são, só livrando-se da interferência que é esperar podemos elaborar nossas teses do que são nossas próprias vidas com mais propriedade, claro que é impossível ser só corpo e pulsação, mas também é inviável depender do pensamento pra qualificar tudo o que se vive, e aí está a armadilha de viver em 2011, esse poço de gente que não sabendo viver basicamente a própria vida, se agarra nos outros como em botes salva-vidas, somos infelizes por saber tão exatamente a razão da infelicidade, já que felicidade é descuido, quase nunca estamos livres e desimpedidos. digo então: para não refletir, eu tento ser.

e quase consigo.