(abre)
patrícia: já são sete anos, aquela festa na casa do fred, eu não sabia exatamente o que era aquilo, conhecia a paula, só a paula e todo mundo falando comigo de primeira, muito simpáticos mas todos estranhos, engraçado que eu olhava pra ele e pensava que aquela menina, maria, devia ter alguma coisa extraordinária, na cama, ou entendia muito de cinema, de cinema brasileiro dos anos 60, sei lá, esse tipo de coisa... porque ele falava, falava, gesticulando, rindo, e eu olhando, acho que só eu via a cena toda, ela quase não dizia nada, ficava parada com um vestido bonito, amarelo, realmente era bonito, ficava assim, ouvindo o que ele contava, e olha, é verdade, eu queria estar naquela conversa, eu pensei que podia também dizer alguma coisa, que talvez ele nem olhasse mais tanto pro vestido amarelo, pros peitos dela, enfim, eu sabia que aquela conversa era bonita, mesmo de longe, mesmo com uma ponta de inveja, eu sabia que era um momento deles. nunca tinha pensando nisso assim antes de te contar, pelo menos não desse jeito, sabe? agora, nem sei se isso é realmente tão importante.
(corte)
maria: você veio assistir esse filme?
caio: ahhhh, olha, não é que agora eu gosto desse tipo de coisa... você ainda existe, maria?
maria: existo, mas demora um tempão pra contar. é chaaato...
caio: quer tomar um café? o filme vai demorar.
maria: tá, pode ser. mas do lado de fora, tudo bem?
caio: tudo bem.