terça-feira, setembro 21, 2010

a parábola do encontro e do medo

"não, a lua é um deserto - desta esfera árida partem todos os discursos e poemas; e todas as viagens através de florestas, batalhas, tesouros, banquetes, alcovas, nos trazem de volta pra cá: o centro de um horizonte vazio." (ítalo calvino)

existe um segredo, quase mistério, e tudo que for feito para obstruí-lo é naturalmente desfavorável a quem precisa descobrir o caminho para a solução simples do enigma. nada deveria ser dito, muito pelo contrário, vive-se um dia, depois outro dia, e mais uma série de meses, e vivendo o que lhe é oferecido ao acaso aparece, imediatamente, como um solução viável. o jeito, ou o único jeito é o óbvio, o prazer mais banal entre os mais banais, a experiência, vocês dois, como uma música dos beatles, lírica quando é paul, ou quando uns dos dois representa paul no baralho do acaso, desequilibrada quando é john, ou quando na força, qualquer um de vocês for john lennon. entendeu? não vamos além da explosão natural, do que já acontece quando se encontram, do que já existe e não precisa ser discutido para evoluir, não pode melhorar porque já é maravilhoso, mas é tão isso que parece trágico ser tão explícito, talvez as pessoas não consigam dizer, ou melhor, não consigam apenas viver, aí vocês dois vão refletir, elaborar, criar sentidos e possibilidades baseadas em aprendizados prévios, quando todo aprendizado como esse não é mais que uma armadilha, que impede o agora, que atravanca o caminho, e onde tudo era natural e espontâneo cria-se um buraco totalmente desnecessário, um buraco que afasta pontos tão próximos, vocês dois, corações ridículos de tão disparados, um precisando um pouco do outro agora, momento de bênção, pensem bem e voltem ao rumo, que está aí, estampado em todos os lugares por onde passaram, cinema, bar, rua e escada, está no que não amedronta ninguém de viver, não tenham pressa, não, por favor. um horizonte vazio é a certeza de poder tudo, não tenham medo de nada.