a ansiedade está em tudo. nas luzes, presentes, filas, dinheiro gasto, nos cambistas de rodoviária, a vontade fica na intenção de preencher os espaços, o vazio, o tempo que já foi e agora o jeito é renovar o ano, apagar os erros pra começar uma transformação, mesmo que seja só de números. vai ter ceia, família, comida, gente feliz, gente triste, alguém que casou, outro que está doente, vão lembrar do pai que morreu, da mulher que fugiu, do filho que não veio, do emprego, da dor. vão lembrar e esquecer também.
vão assistir tv, mágico de oz, como um dia eu fiz, depois da única missa que fui na vida. ela estava na ceia de alguém que amava alguém que já morreu. e eu fiquei em casa. triste. sozinho. pensando que nada mudaria e aceitei o fracasso. o peso da derrota enquanto a derrota durou. vinte e quatro horas. no máximo. mas doeu pra burro.
um ano inteiro não curou. a vida seguiu e eu pensei em escrever algo que seria um acerto de contas com aquele dia, aquela natal, aquele ano. ainda não consigo.