quarta-feira, outubro 03, 2007

Mariana bem de perto - Fragmento

“Musical - mudo, obsessonho sem diálogo, haikai com ou sem haikai, repetição de imagem-sonora que não se repete, extra-angulação, estrangulamento em tomadas trans-fixas, dureé (eternidade eternidade eternidade do sonho), psihitchcose: We are such stuff-as dreams are made on.” – Júlio Bressane, 1977.

As gotas finas da chuva fria de Junho lambem os toldos dos bares na Glória e as pessoas se escondem por onde o inverno não aperta tanto. Mariana sobe a Rua Cândido Mendes no início da tarde e fecha o casaco, lembrando de uma canção que provavelmente não diz lá grande coisa, mas ela segue feliz, procurando na calçada um ritmo para os passos e conta no relógio do telefone celular os minutos que ainda faltam para o encontro marcado no número 72.

- Seis minutos. Ela diz mentalmente e começa a retardar sua marcha, tentando não chegar muito cedo e ao mesmo tempo não querendo pensar no que fará lá dentro. Fica em silencio e dessa vez não faz plano algum.

Ela não sabe por qual lugar ele chega, nem como entra no casarão abandonado. Já se cansou de perguntar, e agora enfim, aproveita os vinte minutos que dispõe todas as tardes e não arrisca a possibilidade de contrariá-lo outra vez. Ele é temperamental em seu silêncio e talvez não apareça nunca mais. Mariana imagina, com medo, isso acontecendo todas as noites antes de pegar no sono.