terça-feira, julho 10, 2007

São Salvador

Ele observa sentado próximo ao chafariz da Praça São Salvador algumas crianças jogando bola e fuma o último cigarro do maço pensando em quanto tempo Ana ainda vai demorar. Levanta-se, vai ao orelhão e não consegue telefonar. Voltando ao banco, acha engraçado ver uma senhora que sentada sozinha como ele, provavelmente perde-se em pensamentos tão longos e dispersos quanto os seus. Aquela praça perdida entre dois bairros parece ter sido construída para momentos assim. Um caminhão de pessoas vestidas em roupas casuais movimenta a calçada do supermercado Zona Sul que ilumina a rua com o néon de seu letreiro.

Ele resolve ir até lá e gastar a nota falsa, que ironicamente, sacou em um caixa eletrônico 24 horas. Até esses dias estranhos já começam a fazer sentido no meio da confusão do supermercado. Lá dentro, entre bananas e carregadores de compras, lembra do poema que Ginsberg fez para Walt Whitman sobre famílias nas compras da noite. “Corredores cheios de maridos” ele diz baixinho e anota mentalmente para contar a Ana mais tarde. São 21h15min no relógio do celular. Caio acaba não comprando nada e volta para o banco com a esperança de que os últimos minutos passem mais rápidos que os anteriores.

Ana atravessa a rua com seu casaco azul e já sorri ao reconhecê-lo de longe. Ele pergunta se os dois podem ficar só mais alguns minutos ali sentados conversando, ela aceita e começa a contar sobre o último dia na aula de inglês.

- Você ligou pra sua mãe? Ele interrompe.

- Não, vou ligar daqui a pouco.

Viver um sonho às vezes requer só simplicidade. Ana continua contando a história da aula e as luzes da São Salvador nunca foram tão coloridas. Ele sente e não diz.

Melhor assim.