terça-feira, fevereiro 20, 2007

Yellow Coffee Break

Eu estava doente e não queria atravessar a avenida paulista inteira só pra tomar um café. Era dor no estômago, era tédio, era agonia mesmo e pronto. Mas ela não desistiu de tocar a campainha com aquele vestido florido amarelo, gritando que lá fora o céu estava cinza e a gente podia caminhar de braços cruzados pelo centrão e rir, e tomar algumas dezenas de xícaras de café amargo, e fumar um cigarro sentados naquela sacada da cafeteria, ah, e além de tudo, ela queria mostrar os sapatos novos. Finos, amarelos e lindos. A menina sorri.

E pronto. Resolvi abrir a porta e vê-la sorrir de orelha a orelha dizendo pra não esquecer do casaco, que com ele me achava o cara mais bonito e a gente parecia casal da nouvelle vague cruzando São Paulo, cruzando a Augusta entre os garotos e garotas do hardcore, e os japoneses, e os góticos, e os loucos. E todo mundo na rua olhando pra nós, gente que não ri geralmente, ela acha, - mas a gente ri, sabe? - A gente ri grande, a gente ri de tudo e aperta o passo quando a chuva aumenta, e se esconde, e se abraça sob o nosso único guarda-chuva. Não que isso seja tão diferente, mas é nosso, e todo mundo que só assiste pelo menos pensa em viver alguma coisa assim também, um dia, ou lembra que já viveu, sei lá, mas é nosso, e é agora. Vamos?