domingo, fevereiro 04, 2007

Sobre Bingos, cores e dias que virão.

Ela aparece sempre quando penso, ela diz, ela faz. Não nega quando peço com jeitinho e também aceita quando invento uma loucura. Seja dançar em um bar imundo ou atravessar um Bingo colorido naquela noite estranha molhada de Martini. Ela faz e ainda fala baixinho, com sua entonação de quem descobriu aquele verdadeiro charme, naturalmente. Seus segredos não interessam a ninguém, ela garante.

- Diz agora você alguma coisa.

- Não digo, não existe isso de ‘diz agora você alguma coisa’.

Sabe exatamente o que quer dizer e na hora em que quer dizer. Tudo parece corrido, necessário e acontece com a velocidade que tem que acontecer. Seja em histórias sobre um estomago que para de funcionar ou sobre frutas e músicas insuportáveis de uma cidade em que ela atravessava de bicicleta e habitava um hotel cor-de-rosa. Eu escuto e deixo correr o gravador enquanto fotografo seus olhos que marejados dessa cereja encharcada em líquido branco, parecem ter outra beleza agora, finalmente consigo atravessar a primeira ponte de seu rosto. Do outro lado existe um lugar novo que ainda não sei onde posso pisar.

- Por que ela merece essa flor? Eu pergunto.

- Porque ela aceitou estar aqui com você. Responde a sábia menina que vende os marcadores de livros. Apesar de acertar em cheio a resposta, para a cena do nosso teatro o ideal mesmo seria um ‘porque ela é linda’, mas a vida sempre me surpreende com as respostas verdadeiras quando procuro esconde-las de alguma forma, não adianta.

Assim seguimos caminhando, encontrando gente, comprando chicletes e além de tudo guardando a certeza que o final não é aqui, algo precisa continuar, e vai. Só esperar pelos dias de amanhã. Eles virão.