sexta-feira, julho 22, 2011

mulher, mulher

(cinco horas e quarenta e dois minutos)

- eu preciso ir embora.

- precisa mesmo?

- acho que preciso.

- acha que precisa ou acha que deve?

- acho que devo. sei lá o que eu acho, na verdade.

- então você vai?

- vou. minha viagem é logo pela manhã.

- e você quer ir embora?

- não faz sentido ficar aqui.

- você não respondeu se quer mesmo ir embora.

- não, não quero. mas vou.

quinta-feira, julho 07, 2011

não mora mais ali ou de natureza prosaica

alguém de onde não veio novidade, recado, sentimento, telefonema, carta, bilhete rabiscado, pedido de socorro, nada. não existe além das páginas amarelas. impossível imaginar vida reservada ao ponto da felicidade, do recolhimento, auto exílio que não me engana, ou vai querer me convencer que não existe por aí aquele buraco da angústia de qualquer ser humano normal, ainda mais com todo esse tédio do espaço vazio, branco e iluminado. sem filme, sem disco, sem nada. vai me dizer que tem tudo? vai falar que o que falta é compensado com amor e revista caras? no meio do nada qualquer coisa deve servir pra sala de espera, eu sei. a vida passa e tudo vai terminar em um acidente vascular grave. aqui ou aí. nem adianta duvidar.

ouvi dizer que na ilha só existe uma cadeira. as pessoas marcam, sentam, choram suas pitangas e pagam. e quem está do outro lado? também chora? também paga? bem que alguém poderia fazer o papel horroroso de me contar, atravessar essas suas histórias de felicidades e piratas, já que como outsider, preciso tirar o chapéu, que vitória incontestável em não existir, em silenciar transformando o mundo nessa budapeste que chove eternamente, sem notícias nem homens de coragem, só idiotas que falam demais. assim, exatamente como eu, sabe? parabéns, liberdade é a sua não-palavra.