quinta-feira, dezembro 03, 2015

o fim pode ser silencioso

o blog acabou. acabou depois de dez anos e a hora é de comemorar que algo existiu por tanto tempo. começou por vontade, terminou por vontade e planejamento. em 2010 eu decidi que a conta fecharia em 2015. um ano de mudança, onde consigo sentir que sou alguém completamente diferente do menino que escreveu em 2005 que uma casa nova era uma vida nova. troquei de casa física três vezes nesses dez anos, a última agora em outubro e quero descobrir como a vida pode ser nova mais uma vez. já que o compromisso exige vivenciá-la e descobri-la. não importando a ordem.

agora os informes práticos. ele fica no ar um tempo, até que eu decida apagar a luz. ou seja, quem quiser salvar alguma coisa, vamos fazer logo. pode ser que vire algo, tipo um livro, ainda não sei se consigo, é lindo e doloroso reler. vai ter blog novo. assim espero sem prometer. 

obrigado. não sei se fomos três, trinta ou trinta e três, mas estivemos juntos. 

terça-feira, setembro 15, 2015

sem pistas

a pergunta que circula pelos alto-falantes do bar é "onde você aprendeu esses truques com facas?", e ele olha o celular em que ela bate os dedos, não conseguindo pensar no amanhã, quando tudo isso vai sumir e virar só um milagre, um dia que não aconteceu, como todo o amor que se sente de fato, que aperta, sufoca, confunde, coisa mais sem fim essa irrealidade, que não some de um dia que foi quase verão, uma praga de dezembro, que ficou sem terceira chance, sem casa, sem música, sem existir e deixa só o que não mudou e algumas frases sobre como é mais racional seguir os acordos prévios, já que essa coisa toda torta nunca vai se ajeitar, já que o ano passa e nada vira uma linha de resolução, já que não se pode falar sobre todo o medo de um dia acordar e acertar a estrada. e ela diz que não existe outro jeito, ela o abraça e esquenta uma noite na rua vazia. na praça, com seis gatos pingados, ela talvez tenha esperado alguma coragem, algum milagre, o natal ou a eterna impossibilidade.

segunda-feira, agosto 31, 2015

dobra

parece que tudo vai mudar, mas parece que um problema acabou de acontecer, bem logo agora, três da tarde, antes de mudar, e nas próximas duas semanas a solução é não solucionar, problema passa da validade e a gente acha que resolveu alguma coisa, mas aí tá tudo estranho, não era bem assim que eu imaginava, agora podia até mudar, mas parece que o problema acordou mais complicado, brotando como espinha de uma semana, no espelho está lá, espinha não é problema, problema atrasa o cronograma do destino, complica a decisão de não se movimentar. cansa esse negócio de vida de dinossauro, cheia de obsessões contínuas quando o não-problema é não perdurar, quem moveu não responde, foi embora, tá em outra, nem leu, nem pensou, cansou, cagou, segue aí que não tá dando pra continuar, dá pra entender, dá pra aceitar, dá pra seguir, o que não dá é pra tentar. outra vez? tentar mil vezes é tentar? mudou alguma coisa? vai continuar? não dá, desiste, segue essa linha aqui que é solução na certa, só fazer assim e tudo vai melhorar, mas parece que o outro problema chegou mais cedo, nem dormiu direito e tá precisando descansar, uma semana só, coisa pouca, depois você acerta as contas, pendura aí, olha pro dia que recomeçou e tenta não deixar pesar, não pensa, não cansa. não olha pra você com a certeza de que não vai dar tudo certo, sem isso não dá pra aguentar.

domingo, agosto 09, 2015

o rumo do trem

repetir é o melhor jeito de não mudar.

terça-feira, julho 21, 2015

nome

um nome repetido, que volta dormindo, que aparece na esquina, na sacola do pão de queijo, na bolha branca do café, na raiva, no sonho, no tudo, toda hora, sete dias, dois anos e contando.

quinta-feira, julho 02, 2015

antes-que

antes do irreversível, antes que seja remanejado, antes do futuro, antes que dezembro brote como um quadro torto de ações, afasia e compulsão (bom conselho não se dá), deixa o silêncio estacionar as expectativas, cala a boca, tranca a porta, toma o pulso e aceita essa força inconsciente de preservação. inspira, dorme, sonha, acorda e cospe, atua como um sábio que não faz a menor ideia do que está fazendo, como um nonagenário que força os exercícios na praça deserta, como uma pai que paga contas, como um marido que trabalha, como qualquer um que não existe. e então uma selva de inexistentes surgirá antes que o mês acabe.

terça-feira, abril 07, 2015

lábio

pequenas histórias que guardamos parecem ínfimas no contexto geral da vida prática, mas com um breve desandar nos fatos, acrescentando um beijo ou uma conversa sincera que apertou a distância, que levou a outro papo na quinta-feira vadia, ou se tudo virasse vontade, um tipo de desejo carinhoso, melhor que só desejo, a pequena história não termina, e com outra, e outra, e outra, vira algo que qualquer um gostaria que existisse. o destino pode fechar um bar, mas abre o exatamente ao lado. coloca uma mesa, pede frango a passarinho pra comer de batom vermelho. dando valor a cada pedaço. 

quarta-feira, março 25, 2015

noite

esses lugares são todos escuros e ele nunca sabe até que ponto é bom beber sem propósito, conversa com um ou outro, pede mais uma cerveja, alguém marca a comanda, outro xis, esses lugares são todos quentes também, essa camisa preta, essa pequena onda que mistura os ruídos aos poucos, todo mundo pergunta coisas engraçadas, deve ser tudo engraçado mesmo, ou ele não tem paciência pra quando a conversa estica, desce a escada pra fumar um cigarro, sai na calçada pra fumar, o maço vazio e o posto no outro lado da rua, fila com gente que faz malabares, malditos malabares, malditas festas que ela frequenta com gente que dança ou faz malabares, que não são exatamente essa festa do outro lado da rua, não chegou a vender a alma, comprou o maço, riscou o fósforo na calçada, fumou pensando como se estivesse sentado no escuro, e as pessoas aos pingos fumando também, rindo, elas precisam dar aquelas risadas de boca aberta, pode reparar, quando você está na conversa nunca é realmente engraçado, só quando é um momento de felicidade, que pra ser assim precisa de tanta coisa, geralmente vem do nada e é improvável que seja o acontecimento dessas 23:57, e ele consegue ficar distraído da conversa, olhando os táxis e a tela do caixa eletrônico piscando, ouvindo a música que vaza, pediram pra subir, tá na hora de tocar alguma coisa, ela não chegou, por acaso tá namorando outro, e ele discoteca e as meninas dançam, balançando a cabeça, suando, decotadas, e depois vão escrever em algum site, blog tá brega, ou vão aparecer em foto de look em galeria de site (blog de look já ficou brega?), ele termina pra fumar outro cigarro e deixar a concentração passear pela rua aberta como o desejo. na liberdade das esquinas e da solidão.

terça-feira, março 03, 2015

mês três

o que eu quero não existe, acabou, caducou ou foi embora.

quarta-feira, fevereiro 11, 2015

depois vivo

ela partiu e não deixou nada escrito. foi e tudo parece normal, como deveria, não fosse a sensação de que o abandono de qualquer coisa importante é a pior forma de matar a esperança.

terça-feira, fevereiro 03, 2015

não existe língua que defina exatamente o desencontro completo, o que dilacera, o que falta dizer, o que falta entender, a caldeira de tudo o que não se simplifica. não existe resumo para o que é tanto.

tanto é sofrer quando nenhuma alternativa existe.

tanto é gozar quando nenhuma alternativa importa.

tanto é tanta coisa mais que pouco.

tanto é pouca coisa menos que tudo.

tanto é não deixar de acreditar.

segunda-feira, janeiro 26, 2015

being around

quando todos os motivos pareciam não justificados, quando a revisão dos detalhes que desencaixaram da história já perdeu a razão de existir (tudo que não confronta não existe), ele estava enfim confortável com o vazio, com o despir da alma que abriu as portas para o roçado de um caminho estranho e novo, elaborado em vielas que construíam pirâmides de certezas, tudo o que vestia era uma camisa preta e a coragem de um ser humano mais forte.

ela dançava sozinha, cabelo recém-cortado e sorriso que não mostrava nenhuma mudança que poderia ser anunciada em conversas rasteiras. estava mais madura, mais calma, estava tentando deixar um caminhão de lado e viver o que poderia parecer mais sincero. queria que fosse mais simples sem saber que o mais simples é realizar o que quer. mas ela já aceitava duvidar. usava vestido, tênis e tudo o que já sabia que ele gostaria de ver.

e eles quiseram chegar perto. estar por perto. precisavam não sofrer mais com a necessidade de uma despedida ou o não entendimento de uma paixão. existia uma força tão necessária que os aproximava que nem perceberam que mais uma vez conversavam. ele sorria e contava histórias, ela suspirava e conseguia colocar suas tiradas entre pausas. coisas que só os dois poderiam fazer, coisas que os dois mereciam muito viver. e quando tudo começa de novo é sempre a chance de ficar por perto mais tempo, sem saber como o imediato pode não terminar.

esperança é sempre apostar.

segunda-feira, janeiro 12, 2015

acreditar

a vida (ou o outro nome: destino) não pode me roubar a chance de ver a fortaleza ruindo, o acidente necessário, a chuva de surpresa em um recado rápido como a madrugada, algo nascido da epifania mais forte que um ataque cardíaco, a certeza que escreve "eu já não me controlo". não conseguir lutar é parte de toda grande história. se a sugestão é a força do deus da vontade, não existe tempo que não possibilite o crescer de uma árvore gigantesca, com ramos de sentimentos que não estão catalogados em situações óbvias, em dias em que o pensamento se perde em segundos de distância do novo, cheio de suas possíveis alegrias longínquas, e nem toda a força da razão pode proteger do encontro. vai tocar o yankee hotel foxtrot muito alto. alto pra nos acordar, alto pra acordar os vizinhos, alto pra dizer que a felicidade um dia acontece, como os ruídos que engolem a frase then i fell asleep and the city kept blinking, como o próprio desejo de existir.

segunda-feira, janeiro 05, 2015

oráculo

quando as cartas são redistribuídas, a narrativa antecipada estabelece cinco símbolos do que é necessário para que eles existam. passos que a vida precisa dar naturalmente, completando um ciclo de encontro e dificuldade, deixando que a paixão aconteça pela coragem, que o olhar natural dure, que as descobertas sejam inteiras, que o novo coma o passado e ela possa acordar ouvindo um disco que ele escolheu, e os detalhes do café, da parede, do cigarro, das plantas e livros coloquem pra fora uma história esplêndida, projetada no inconsciente e vivida na prática loucura dos passionais, na respiração que ela não controla, cheia de suspiros, quebras de padrão do corpo para resumir o ridículo que seria não tentar contar essa história toda, cheia de milagres e vontade de eternizar cada pequeno detalhe, os olhos nos olhos, a mão, o ombro, as bolinhas no vestido e os beijos descompassados.

quinta-feira, dezembro 18, 2014

o sentido da vida

o ângela rô rô 1979, o contrabaixo que vendi em 2008, seu cabelo, sorriso e tudo mais, o que imagino das pessoas desconhecidas, as histórias inventadas, o gramado da casa do lúcio no final da infância, as cores dos quatro primeiros discos do fellini, os que me amam sem nem ter entendido como funciona, a madrugada de um show do sean lennon pela tv, o carro na beira do rio, o bonde antes da festa da glória, seu cheiro em mim, o beijo da minha tia antes da escola, minha mãe dando comida ao menino na rodoviária do tietê, minha irmã me jogando na brasa, o hospital na virada para 2009, a caixa de fitas vhs, as tardes de música, as madrugadas com o samba amanhecendo, o amor entendido, uma conversa sincera com um amigo sincero, os que esqueceram que já fomos amigos, a solidão do meu apartamento em botafogo, o sonho e o café, o que sinto quando acho que posso qualquer coisa, a cumplicidade, as qualidades dos outros, tudo que não entendo por saber que só narro o meu lado da história, são paulo anoitecendo, itaperuna pela janela, o aterro do flamengo em 2004, os segredos que permanecem, a dúvida que não precisou se confirmar, o bar pescador, o bairro peixoto, o apartamento no térreo, a tristeza em natal, a reflexão no natal, a flor na festa de casamento, o telefone fixo na madrugada, o almoço no amendoeira, indo no carro com um casal estranho para o show dos mutantes sem a rita lee, o amigo que me ligou por estar triste e sozinho em outra cidade, a van que tocava uma música brega voltando de niterói, o beijo que aconteceu e era impossível, todos os impossíveis, na verdade, o tempo que amadurece e transforma, o jeff buckley cantando too young to hold on and too old to just break free and run, você no taxi pela madrugada do rio, o sexo, a vontade, os desejos, algumas músicas que escrevi e as dos outros, sempre melhores, o meu choro com as imagens do mauricio pereira dentro de uma canção honesta, música serve pra isso, tocar guitarra sem precisar cantar, o amigo que aprendeu contrabaixo comigo e o que me ensinou violão, as tardes longas na casa dos bussade, a praia no lugar mais feio do mundo, tudo o que sofri, tudo o que amei, a loucura lá no fim de niterói, o 455 que voltou da bunker, os amigos bebendo no camarim do placebo, as meninas do exame, o primeiro beijo, a felicidade no que se concretiza, o sonho vívido, o agora, os retornos e tudo o que ainda pode acontecer. 

segunda-feira, dezembro 08, 2014

dezembro

ficar em casa
jogar e perder
o lado B de ziggy stardust
são paulo à noite
o mundo e você
servem pra me ensinar
mas eu nunca vou aprender

(alvin l)

domingo, novembro 30, 2014

2013

o período natal/réveillon do ano passado me deixou tão comovido-embriagado que cuspi 22 haicais. salpiquei alguns em músicas, outros guardei só pra mim.

sábado, novembro 29, 2014

semana

quando os lugares estão para o descobrimento e o possível é uma grande folha em branco, quando você se pergunta se o destino te escreve ou o sopro de sonho embaça o vidro, como o cigarro inesperado que ainda vai acontecer, divido com calma e felicidade, quando o coração pergunta o caminho e rabisca uma lista sentimental de desejos, quando ainda existe um fio de dúvida e a história longa parece ser a promessa de que a vida é gentil com os que caíram no vão dos desatentos, outra semana especial existe como um prêmio, com seus poderes de síntese e premonição. que o impossível seja breve, que o acaso fique louco.

terça-feira, setembro 23, 2014

maturare

o complexo dos anos, a teia de fios sensíveis, a ante-sala do inconsciente, tudo que não é possível organizar em caixas de supermercado, em arquiteturas de informação ou listas de dez dicas, tudo que precisamos enfrentar para não sucumbir ao caos. a consciência dos desvios de conduta é a liberdade para o roçado de um novo caminho, um pouco mais justo, um pouco mais vivo.  

sexta-feira, agosto 29, 2014

#5

só me arrependo do que eu disse.
o que eu não disse até que valeu a pena.