segunda-feira, janeiro 26, 2015

being around

quando todos os motivos pareciam não justificados, quando a revisão dos detalhes que desencaixaram da história já perdeu a razão de existir (tudo que não confronta não existe), ele estava enfim confortável com o vazio, com o despir da alma que abriu as portas para o roçado de um caminho estranho e novo, elaborado em vielas que construíam pirâmides de certezas, tudo o que vestia era uma camisa preta e a coragem de um ser humano mais forte.

ela dançava sozinha, cabelo recém-cortado e sorriso que não mostrava nenhuma mudança que poderia ser anunciada em conversas rasteiras. estava mais madura, mais calma, estava tentando deixar um caminhão de lado e viver o que poderia parecer mais sincero. queria que fosse mais simples sem saber que o mais simples é realizar o que quer. mas ela já aceitava duvidar. usava vestido, tênis e tudo o que já sabia que ele gostaria de ver.

e eles quiseram chegar perto. estar por perto. precisavam não sofrer mais com a necessidade de uma despedida ou o não entendimento de uma paixão. existia uma força tão necessária que os aproximava que nem perceberam que mais uma vez conversavam. ele sorria e contava histórias, ela suspirava e conseguia colocar suas tiradas entre pausas. coisas que só os dois poderiam fazer, coisas que os dois mereciam muito viver. e quando tudo começa de novo é sempre a chance de ficar por perto mais tempo, sem saber como o imediato pode não terminar.

esperança é sempre apostar.

segunda-feira, janeiro 12, 2015

acreditar

a vida (ou o outro nome: destino) não pode me roubar a chance de ver a fortaleza ruindo, o acidente necessário, a chuva de surpresa em um recado rápido como a madrugada, algo nascido da epifania mais forte que um ataque cardíaco, a certeza que escreve "eu já não me controlo". não conseguir lutar é parte de toda grande história. se a sugestão é a força do deus da vontade, não existe tempo que não possibilite o crescer de uma árvore gigantesca, com ramos de sentimentos que não estão catalogados em situações óbvias, em dias em que o pensamento se perde em segundos de distância do novo, cheio de suas possíveis alegrias longínquas, e nem toda a força da razão pode proteger do encontro. vai tocar o yankee hotel foxtrot muito alto. alto pra nos acordar, alto pra acordar os vizinhos, alto pra dizer que a felicidade um dia acontece, como os ruídos que engolem a frase then i fell asleep and the city kept blinking, como o próprio desejo de existir.

segunda-feira, janeiro 05, 2015

oráculo

quando as cartas são redistribuídas, a narrativa antecipada estabelece cinco símbolos do que é necessário para que eles existam. passos que a vida precisa dar naturalmente, completando um ciclo de encontro e dificuldade, deixando que a paixão aconteça pela coragem, que o olhar natural dure, que as descobertas sejam inteiras, que o novo coma o passado e ela possa acordar ouvindo um disco que ele escolheu, e os detalhes do café, da parede, do cigarro, das plantas e livros coloquem pra fora uma história esplêndida, projetada no inconsciente e vivida na prática loucura dos passionais, na respiração que ela não controla, cheia de suspiros, quebras de padrão do corpo para resumir o ridículo que seria não tentar contar essa história toda, cheia de milagres e vontade de eternizar cada pequeno detalhe, os olhos nos olhos, a mão, o ombro, as bolinhas no vestido e os beijos descompassados.