quarta-feira, outubro 30, 2013

o seu silêncio é maior que qualquer não.

sexta-feira, outubro 18, 2013

the great escape

ele chegou nervoso, não acreditou que seria possível encontrá-la assim, sem uma grande impossibilidade, e enquanto pensava no barulho dos copos e pessoas que atravessavam o salão de chá, quis colocar o momento em alguma coleção pessoal de recomeços, de tanta alegria que o óbvio provocava.

ela chegou de vestido preto, não imaginou até os três primeiros passos na entrada que estavam criando alguma coisa juntos, uma troca de códigos secretos, não queria, tentava resistir e não elaborar algo que evidenciasse o encontro, não conseguia contar esse segredo nem à sua consciência.

- vou dizer o que pensei e se você achar muita maluquice eu posso pedir mil desculpas e fugir em cinco segundos.

ela riu e perguntou o que ele havia pensado.

- a gente toma esse chá correndo e foge lá pra casa e passa oito horas ouvindo música e falando sobre filmes, escolhemos filmes pra assistir também, e contamos histórias sobre esses filmes, coisas pequenas e importantes de nós que estão neles. ou nas músicas. podemos passar no supermercado e levar vinhos e qualquer outra coisa que você quiser comer.

- é. eu acho um bom plano.

quarta-feira, outubro 16, 2013

pequena ilusão

e poderíamos muito. em silêncio. dádiva de uma escolha suave e inviável na falta de compasso entre a linha da atração e o pragmatismo inútil.

foi o que a vida disse aos dois, que permaneceram calados esperando o momento em que o fim da música seria a pausa para o exercício do destemor.

acordo complexo já que ele perdera o hábito dos banhos frios (coragem encanada) e ela representava o infinito das possibilidades, que a rigor seria o nada. articular o sonho em um mundo que não dorme requer mãos para o artesanato. e coração preparado para desemaranhar cada fio de dificuldade até o inadiável exercício do desejo dos cúmplices.

segunda-feira, outubro 14, 2013

bula

A corrente bovarizante, que é de integrar o real no imaginário, o imaginário no real, se ramificará de maneira múltipla: o "eu" do autor e o "eu" do herói poderão se confundir e, finalmente, o romancista procurará continuamente transformar o real na lembrança, transformar a si mesmo por sua obra e na sua obra. Os romances burgueses, sob diversas formas, se tornam os tu e eu, tu leitor que sou eu autor, eu autor que sou tu, leitor, tu personagem de romance que sou eu, eu personagem de romance que sou tu, um jogo de perseguição, passos cruzados incessantes entre a vida e o sonho.

(edgar morin)

quinta-feira, outubro 10, 2013

continue, por favor

mesmo realista ou trabalhando na frequência limite do inevitável, o sonho só existe para projetar o futuro. para tornar perfeito o minuto de desabafo onde a menina conta um pequeno pedaço da infância, como se regredisse ou esperasse o destino sem saber que alguma coisa vai chegar.

e presta atenção. observando os detalhes que cita aos poucos, com receio de cruzar os olhares e esclarecer a fagulha de interesse. deixar que a vergonha atravesse o muro e as coisas fiquem definidas.

estamos entendidos que existe um plano?

somos óbvios quando evitamos a coragem. e possíveis por encará-la como a única coisa que talvez no salve desses silêncios, dos pequenos medos, do caracol que reprime a vontade, que cobre o desejo.

no filme que continua, você pensa em conversar mais um pouco e aceita ser personagem desse pequeno começo: carinhoso, apaixonado e atento.

sexta-feira, outubro 04, 2013

no dia que ainda não existe você pode ter um minuto de desejo

aconteceu. um breve descuido e a conversa foi parar no suor frio de um futuro que parece com as bolinhas daquele vestido preto ou com a palpitação de uma viagem de ônibus pelo rasgo do interior do estado de minas gerais. ela desejou que ele estivesse de mãos vazias.

- eu sinto que a nossa conversa é um código.

ela disse, já não acreditando na possibilidade de superar essa situação imediatamente. ele parecia calmo e guardava todas as palavras para quando pudesse desejar.

a despedida foi melancólica, um beijo no rosto quente de quem (ela) realmente não se aguenta de coragem.

e ninguém acreditou quando alice pediu para descer do carro, correu as duas esquinas já passadas, só para dizer ao pé do ouvido: eu só posso te encontrar na quarta-feira, mas não aguento até amanhã. trate de resolver isso.

i knew she was gonna meet her connection
at her feet was a footloose man

(but if you try sometimes)