quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Por algum motivo - voltando a sonhar.

Não lembro a roupa que você usava no sonho, mas parecia a mesma de 2003 - pelo menos a que ainda ficou na minha memória. Você entrou pela porta aqui de casa me acordando e disse baixinho que ainda era cedo. Eu olhei o céu e concordei. Então você deitou na cama comigo, dividimos o cobertor, apagamos a luz e dormimos um pouco.

Você acordou querendo transar, exatamente como sempre costumava acontecer, e eu disse que tinha aula daqui a pouco. Engraçado pensar que foi um sonho, mas poderia ter sido o passado, afinal o passado foi mais ou menos assim, não é verdade?

Você me disse pra matar a primeira aula. Aceitei. Chegar às 8:40 pareceu bem razoável para o nosso reencontro, e nessa hora senti saudade de te abraçar como minha mulher. Talvez eu fosse jovem demais naquela época. Hoje aposto que foi o medo quem nos separou.

O seu medo de perder e o meu medo de encontrar. Engraçado, você perdeu e eu não encontrei, a vida até que parece justa em perspectiva. Acordei e não era 2003, quem sabe não te vejo voltar por aquela porta.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Harmada - Besteira acreditar

Perdão se deixei o silêncio no seu quarto ou um motivo pra voltar.

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Yellow Coffee Break

Eu estava doente e não queria atravessar a avenida paulista inteira só pra tomar um café. Era dor no estômago, era tédio, era agonia mesmo e pronto. Mas ela não desistiu de tocar a campainha com aquele vestido florido amarelo, gritando que lá fora o céu estava cinza e a gente podia caminhar de braços cruzados pelo centrão e rir, e tomar algumas dezenas de xícaras de café amargo, e fumar um cigarro sentados naquela sacada da cafeteria, ah, e além de tudo, ela queria mostrar os sapatos novos. Finos, amarelos e lindos. A menina sorri.

E pronto. Resolvi abrir a porta e vê-la sorrir de orelha a orelha dizendo pra não esquecer do casaco, que com ele me achava o cara mais bonito e a gente parecia casal da nouvelle vague cruzando São Paulo, cruzando a Augusta entre os garotos e garotas do hardcore, e os japoneses, e os góticos, e os loucos. E todo mundo na rua olhando pra nós, gente que não ri geralmente, ela acha, - mas a gente ri, sabe? - A gente ri grande, a gente ri de tudo e aperta o passo quando a chuva aumenta, e se esconde, e se abraça sob o nosso único guarda-chuva. Não que isso seja tão diferente, mas é nosso, e todo mundo que só assiste pelo menos pensa em viver alguma coisa assim também, um dia, ou lembra que já viveu, sei lá, mas é nosso, e é agora. Vamos?

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Blog do Klaus

Sempre que passar por aqui e quiser continuar lendo, aproveite o embalo e a oportunidade pra visitar o blog do Klaus:

http://quarentaedois.blogsome.com

O camarada entrou em uma fase importante de textos e vale a pena acompanhar.

sábado, fevereiro 10, 2007

ParaAna ou EsqueçamosaEpistemologia.

Entenda meu corpo, batimentos por minuto,
minha história, meus quilômetros por hora.

Entenda meu canto, meus tantos por cento,
meus contos de réis, tantos por mês.

Entenda meu corpo, sal e litros d'água,
em centímetros ao cubo, em silêncio, por favor.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

The Alcoholic Republic of Letters

"Neste século, poder-se-ia afirmar com segurança que uma porcentagem significativa de escritores norte-americanos é formada de alcoólatras em menor ou maior grau; explicá-lo é coisa que deixo para os médicos curandeiros. O alcoolismo acabou com as carreiras de Hemingway, Fitzgerald e Faulkner, para citar três romancistas que estiveram na moda, no país, em meados do século. Por piedade em relação aos descendentes e guardiões das chamas ainda bruxuleantes de personagens literários outrora gloriosos, deixo de citar outros nomes. Por beber demais, Hemingway não conseguiu escrever nada de bom no final da vida; pela mesma razão, Fitzgerald morreu aos 44 anos e William Faulkner de As I Lay Dying virou fábula."

* Gore Vidal em "De fato e de ficção - Ensaios contra a corrente." - Companhia das Letras - 1987.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Chuva nas pedras portuguesas.

Rua do Ouvidor. Ele de chapéu do panamá e ela de vestido em tons amarelados. Ele acende o cigarro e começa a contar o sonho estranho que teve na noite passada, enquanto ela observa com o pensamento distante dali, talvez seja só medo da certeza, ela conclui. Os carros passam lentos e o vento lambe a bandeira turca a meio palmo no outro lado da rua. Começa a garoar fino e ele lembra que isso sempre acontece quando estão ali. Ela sorri, ainda perdida na questão.

Serão a finalidade? Ele sente que concluirá quando concluir e pronto, é assim que acontece. O eterno retorno sempre existe para quem pensa no eterno retorno. Ela sente o coração saltar no peito e não sabe para onde o levar. Ele, mais calmo, diz que o caminho não depende da velocidade dos passos, talvez da segurança entre cada um deles. A garota busca na memória algum momento anterior para explicar o agora, não encontra. Decide se levantar, ir embora, mas ainda vacila por acreditar que o abismo só parece fundo em perspectiva.

Ele a segura pela mão e conduz seus passos pelas pedras portuguesas. Ela pensa agora que a certeza, essa sim, virá com o tempo.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

domingo, fevereiro 04, 2007

Sobre Bingos, cores e dias que virão.

Ela aparece sempre quando penso, ela diz, ela faz. Não nega quando peço com jeitinho e também aceita quando invento uma loucura. Seja dançar em um bar imundo ou atravessar um Bingo colorido naquela noite estranha molhada de Martini. Ela faz e ainda fala baixinho, com sua entonação de quem descobriu aquele verdadeiro charme, naturalmente. Seus segredos não interessam a ninguém, ela garante.

- Diz agora você alguma coisa.

- Não digo, não existe isso de ‘diz agora você alguma coisa’.

Sabe exatamente o que quer dizer e na hora em que quer dizer. Tudo parece corrido, necessário e acontece com a velocidade que tem que acontecer. Seja em histórias sobre um estomago que para de funcionar ou sobre frutas e músicas insuportáveis de uma cidade em que ela atravessava de bicicleta e habitava um hotel cor-de-rosa. Eu escuto e deixo correr o gravador enquanto fotografo seus olhos que marejados dessa cereja encharcada em líquido branco, parecem ter outra beleza agora, finalmente consigo atravessar a primeira ponte de seu rosto. Do outro lado existe um lugar novo que ainda não sei onde posso pisar.

- Por que ela merece essa flor? Eu pergunto.

- Porque ela aceitou estar aqui com você. Responde a sábia menina que vende os marcadores de livros. Apesar de acertar em cheio a resposta, para a cena do nosso teatro o ideal mesmo seria um ‘porque ela é linda’, mas a vida sempre me surpreende com as respostas verdadeiras quando procuro esconde-las de alguma forma, não adianta.

Assim seguimos caminhando, encontrando gente, comprando chicletes e além de tudo guardando a certeza que o final não é aqui, algo precisa continuar, e vai. Só esperar pelos dias de amanhã. Eles virão.

sábado, fevereiro 03, 2007

Ao(s) que suga(m).

Aprendi a dedicar meu desprezo. Diariamente.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

That damp and lonely thursday years ago.



I said let's all meet up in the year 2000.
Won't it be strange when we're all fully grown.
Be there at 2 o'clock by the fountain down the road.
I never knew that you'd get married.
I would be living down here on my own on
that damp and lonely Thursday years ago.